30 de dezembro de 2013

Medi em amor.

Dentro de algumas horas parto para a minha última viagem de 2013 e, simultaneamente, a primeira de 2014. Pela primeira vez desde que me lembro, fecharei um ano e abrirei as portas a outro fora de Portugal. Acaba por calhar bem! Uma passagem de ano diferente para encerrar dentro das gavetas da memória um ano que foi também tão diferente de todos os outros.

Gostava de fazer um balanço destes 12 meses, mas não sei se quero realmente pensar no resultado final dessa avaliação. Foi, sem dúvida, um ano de emoções muito fortes. De altos muitos altos e baixos muito baixos, de um coração que transbordou de orgulho e de medo, de felicidade e de angústia, sempre da mesma forma, com gordas gotas a escorrer-me pelo rosto. E penso melhor e foi, realmente, um ano bom. Porque tudo é caminho, tudo é memória, tudo é a minha história. E das lutas saí vencedora (de uma ou de outra forma), das quedas levantei-me mais forte, mais acompanhada, mais segura. E dos momentos bons... desses não posso lembrar-me sem suspirar de saudades dos sorrisos, dos abraços, dos pôres-do-sol, da praia, do ar puro, dos amigos e da família, das horas passadas a dançar, a cantar, a aparvalhar (algo tão necessário!), a fotografar, a passear, a rir, a aplaudir, a conversar, a comer, a beber, a ouvir, a amar, a viver. As lágrimas de alegria e orgulho que também se fizeram notar, essas que hoje põem um sorriso nos meus lábios e no mais profundo de mim, resumem bem este 2013: duro, intenso, bom. Apesar de tudo, contando com todos. :)

E porque a música é o que me define em tantas, tantas ocasiões, este balanço de fim de ano não podia terminar sem uma referência à canção que mais me marcou neste ano, talvez mesmo nos últimos anos. Por tudo o que significa e representa, mas principalmente pelo tanto, tanto que me fez pensar no que é realmente mais importante. 

"How do you measure, measure a year?
In daylights? In sunsets?
In midnights? In cups of coffee?
In inches? In miles?
In laughter? In strife?


Um 2014 bom, feliz, cheio de tudo o que for necessário, para todos os que tenho a felicidade de ter na minha vida! :)

20 de dezembro de 2013

De nenhum fruto queiras só metade.

As pessoas. E os lugares. E esta persistente mania de me aninhar onde encontro lugar, de me encaixar e de abrir o coração a amigos que se tornam "família", que fazem de qualquer lugar, "casa".

Pouco a pouco, o nó na garganta cresce e lembro-me que não gosto de despedir-me. Não gosto de partir, a menos que tenha data certa de voltar. E os cenários desenham-se na minha cabeça e o nó na garganta não diminui. E, ainda que saiba que não vos perderei, o nó na garganta não diminui. E é o único que dói.

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Las personas. Y los sitios. Y esta persistente mania de hacer nido donde encuentro lugar, de encajarme y abrir el corazón a amigos que se hacen "familia", que hacen de cualquier sitio, "casa".

Poco a poco, el nudo en la garganta crece y me acuerdo de que no me gusta despedirme. No me gusta partir, si no tengo fecha cierta de volver. Y los escenarios se dibujan en mi cabeza y el nudo en la garganta no disminuye. Y, aunque sepa que no os perderé, el nudo en la garganta no disminuye. Y es el único que duele.

18 de dezembro de 2013

Abrigada.

Há oito anos atrás, comecei a escrever este blog. Escrevo por ímpeto, por paixão, por necessidade de organizar as ideias em forma de palavras, de frases, de parágrafos. Escrevo porque sinto que é o melhor meio que tenho para transmitir a quem me rodeia o que penso, o que sinto, o que me apaixona, o que me dói na alma, o que me emociona, o que me revolta, o que me faz feliz. Não pensei que este blog durasse tanto tempo. Pensei que perderia a motivação, que me faltariam as palavras, que não teria nada para dizer - e, muitas vezes, é mesmo isto que acontece! Mas já lá vão 8 anos e não tenho vontade de fechar o "caderno".

Dei-lhe uma nova cara, para o novo ano de vida que hoje começa. E pensei, como penso tantas vezes, neste vídeo e na sua mensagem: "Como gostarias realmente de passar a tua vida?" Eu gostaria de escrever. E de cantar. Por isso hoje, relembro este texto, escrito há um ano atrás e que ainda hoje é um dos que mais gosto e partilho uma das canções que mais gosto de cantar. Porque este é o meu abrigo e se aqui não posso ser exactamente a pessoa que gostaria de ser... então onde poderei sê-lo?

Oito anos, 97 meses, 417 semanas, 2922 dias de existência deste espaço. Por vocês, para vocês. Obrigada por serem, realmente, "o meu abrigo".

16 de dezembro de 2013

Dancing through the fire.

O ano aproxima-se do final e, inevitavelmente, trago à memória os tantos momentos que marcaram este 2013. Mas não, por hoje não venho fazer um balanço nem avaliar o que de melhor e pior vivi nestes 12 meses.

A questão de hoje é que paro para pensar e observo que termino este ano "13" numa curva descendente. E não gosto. Nunca me deixei ficar, nunca deixei que ninguém virasse costas sem ouvir tudo o que eu queria (e muitas vezes, não queria) dizer. Mas na segunda metade deste ano, sem sombra de dúvida, deixei-me cair uma e outra vez, cada vez com menos "recursos" para me levantar por mim própria e recuperar o que sou e o que posso ser. Tive sempre, felizmente, todas as mãos de que precisei para que a força "extra" nunca faltasse e o "levantar" fosse sempre uma realidade. Mas cresci também muito, dentro de mim, à força da necessidade de acreditar em mim própria, contra tudo, contra todos.


Chego ao final do ano cansada de lutar contra uma realidade que é tão, tão difícil de mudar (e tão improvável!). Mas chego também cada vez mais identificada com palavras como estas:

"I let you push me past the breaking point
I stood for nothing, so I fell for everything

You held me down, but I got up
Already brushing off the dust
You hear my voice, you hear that sound
Like thunder gonna shake the ground
You held me down, but I got up
Get ready 'cause I’ve had enough
I see it all, I see it now

I got the eye of the tiger, a fighter, dancing through the fire
'Cause I am a champion and you’re gonna hear me roar"

21 de novembro de 2013

Shake it out!

Estou cansada de ser optimista. Não pelo facto de o ser, evidentemente, porque é um traço de personalidade ao qual dificilmente posso fugir, essa inexplicável capacidade de ver sempre um ténue brilho ao fundo do túnel, essa habilidade para nunca me deixar afundar completamente. E não é mérito, não! É talvez inato, talvez fruto da educação que tive o privilégio de ter, talvez um pouco fruto da fé que alimento, também.

Mas enfim, estou cansada. Porque ser optimista é duro, porque levantar-se do chão nunca é fácil, mas tudo é tão pior quando à nossa volta as pessoas apreciam manter-se no chão, ver sempre o lado negro de tudo, resmungar, remoer, pôr sobre si próprias um pesado fardo que as impede até de simplesmente erguer a cabeça. Estou farta de ser a que vê as coisas mais bonitas do que realmente são, estou cansada de me alegrar com as coisas pequenas, já não suporto que me recordem que os males do mundo são tantos e tão grandes que tudo o resto se torna absolutamente insignificante.

Povo do mundo: deixem-me (ou deixem-nos, quero acreditar que há mais como eu por aí fora...) ser optimista, positiva, alegre, feliz. Deixem-me acreditar que o mundo às vezes é cor-de-rosa e bonito, porque há nele coisas boas e pessoas bonitas, mesmo que a austeridade nos corte as asas, a crise nos corte os sonhos e a fome, a guerra e a violência nos cortem a esperança. Por favor!

«And it's hard to dance
with a devil on your back
so shake him off!»

12 de outubro de 2013

525600

Ficou-me na retina um olhar, no ouvido uma frase: «Acreditas realmente que um dia, no teu leito de morte, vais pensar "Ah, óptimo, ninguém soube que eu era amável!"?»

Porquê envergonhar-nos de ser bons? Porquê o esforço de deixar uma imagem distante, fria, insensível até? Porque não dar-nos completamente, ainda que doa, ainda que custe, ainda que seja difícil? Afinal, como também ouvi hoje, "a vergonha é um sentimento desperdiçado". No fim, ninguém vai saber os nossos segredos, por isso, para quê guardar para nós mesmos o que é bom?

Porque tudo acaba. Às vezes cedo demais. E, aí, como mediremos as nossas vidas? "Em dias, em pores-do-sol? Em noites, em cafés? Em polegadas, em milhas? Em risos, em conflitos?"

"Que tal em AMOR?"


(de vez em quando, vale a pena pensar nisto. porque há sempre algo maior, mais importante do que as minhoquices do dia-a-dia.)

17 de setembro de 2013

17 x 3

Desde aquele ano, salta-me o coração quando o telefone toca a horas inesperadas e quando tenho mais de três chamadas perdidas da mesma pessoa. Desde aquele ano, o dia 17 de Setembro nunca mais foi o mesmo. E não gosto. Não gosto de recordar um dia aleatório só porque é o dia em que deixei de poder ouvir-te dizer "a minha Sarinha". Prefiro lembrar-me do 18 de Janeiro e do 10 de Setembro e não conjugar os verbos no passado para falar de ti. Mas já passaram 3 anos e não consigo escrever "17 de Setembro de 2013" sem ter de fazer um esforço por relembrar a tua voz. 

Contar-te-ia tantas histórias e alegrias, sei que te orgulharias tanto de mim... Mesmo quando não sou capaz, porque para ti eu era sempre "a maior". Espero que possas ver-nos aos 5, a tua segunda geração, e vejas como estamos a crescer (eu menos, que já tenho pouco para crescer...). Espero que te orgulhes de nós. Fazes-me falta, avô.

28 de agosto de 2013

Palavras.

Não gosto de sentir que ando à procura das palavras. Não gosto de ter que as escolher, uma por uma, como setas de um arco invisível, que uma vez atiradas nunca poderão voltar à origem. Prefiro que as palavras me inundem, que se atropelem por sair dos meus lábios, dos meus dedos, daquilo a que gosto de chamar alma. Prefiro que as palavras cheguem a mim como gotas de chuva num pedaço de terra árida, ideais, adequadas, acertadas, perfeitas. Mas o problema é que, muitas vezes, quando assim chegam, as palavras vêm misturadas, as necessárias com as excessivas, as acertadas com as inoportunas. E, de repente, a dúvida: disse o que devia? Fui útil?

Mais de uma vez, nestas semanas que se antecipavam de descanso e relaxamento, tive de escolher palavras, pensar e repensar o que dizer, pensar na sua utilidade, na sua acção, na reacção de quem as iria receber, no que poderia fazer delas. Tive de pensar se eram as adequadas, mas também tive de me convencer que, por vezes, dizê-las era tudo o que podia fazer. Por mim e pelos outros. Para que nada fique por dizer, para que de nada me possa arrepender, para sentir que, pelo menos, estiquei a mão, ofereci uma palavra, fiz qualquer coisa. Ainda que de nada sirva, ainda que as palavras não tranquilizem ânimos, não traduzam motivações, não respondam a porquês, não tragam de volta quem desapareceu de repente. Ainda que as palavras que escolhi de nada sirvam, contê-las era algo que não conseguiria ter feito.

Porque, ainda assim, as palavras continuam a inundar-me. Por vezes desorganizadas, a pedir que as coloque de alguma maneira minimamente lógica. Por vezes em forma de canções que escuto, de textos que leio, de formas de organizar as palavras que outros descobriram, muito, muito melhor do que eu. Mas enquanto continuarem a chegar como chuvas torrenciais, como nós na garganta, como sensações de dever, como tradução de sentimentos tão maiores do que eu, melhor ou pior, continuarei a escolher as palavras com que vos direi que estou a tentar. Sem desistir. Caindo mil vezes, levantando-me mil e uma.

"Don't hang your head in sorrow
Don't give up just before you win
Don't wait around for tomorrow"

17 de julho de 2013

In reverse.

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, "suficiente" significa três coisas: "que é bastante", "que satisfaz" e ainda "apto, capaz, hábil".

Segundo a Real Academia Española, significa "bastante para lo que se necesita" e "apto o idóneo".

Segundo algumas pessoas, não existe. Algo tão simples, tão banal e no entanto tão desconhecido para algumas pessoas. E quando assim é, quando nada do que se faz parece ser suficiente, é quando te sentes mais incompetente (ou será impotente?!). Porque nenhum esforço chegará a satisfazer, nunca. Porque em vez de contar cada pequeno grão de areia, conta apenas a enorme tempestade que cria dunas e muda a face dos desertos e que quase nunca acontece. E por isso, tudo o resto, todos os outros grãos de areia que, pacientemente se foram colocando, não significam nada.

Manipulando a letra dessa grande canção dos eternos Coldplay,

When you try your best but you don't succeed,
You neither get what you want, nor what you need.
Stuck in reverse? Absolutely.

18 de junho de 2013

Recordar é agradecer.

[Declaração prévia: Este texto não vai falar de greve (já li demasiado para me entristecer e me zangar com o assunto, pelo que decidi que não vale a pena expressar a minha opinião, ainda que a tenha). Este texto está condicionado pelo facto da minha mãe, a minha tia e vários amigos/as serem Professores. Este texto foi inspirado neste magistral texto da Sónia Morais Santos. E, dito isto, vamos falar de Professores.]


No princípio, há 20 anos, chamava-se Albina, tinha uns enormes olhos azuis e uma voz que ainda hoje recordo. Éramos cerca de 20 naquela sala nº2, da parte da manhã, de segunda a sexta e a Professora Albina ensinou-me duas das coisas que até hoje me dão mais prazer: ler e escrever. Às suas mãos, fomos actores, pintores, cantores, bailarinos, agricultores, escritores. Também aprendi nesse tempo que não se pode saltar a janela da sala para entrar e que, por isso, há que cumprir um castigo leve, mas lembrado para sempre. Quatro anos depois, despedimo-nos com um lanche na sua casa, assim mesmo, de portas abertas, porque sempre houve respeito, confiança, educação.

Depois, ao mudar de escola, a figura permaneceu, desmultiplicou-se, assumiu outros nomes. Chamava-se Gina e ensinou-me a amar a nossa língua, a apaixonar-me pela leitura, a descobrir-me na escrita. Chamava-se Emília e ensinou-me os mistérios da terra e da vida, a magia da matemática, a ternura que sempre foi compatível com o rigor. Chamava-se Manuela e ensinou-me que podemos ser capazes de nos expressar perfeitamente noutro idioma e que o inglês também pode ser bonito. Chamava-se Lénia e levou-me a desafiar-me a mim própria e a pôr-me à prova, qual atleta olímpica dos números e dos problemas. Chamava-se Natália e ensinou-me a História que nos trouxe aqui e a capacidade de a relacionar, explicar, demonstrar. Chamava-se Cristina e ensinou-me os nomes dos países e das capitais que um dia conheceria, a Geografia deste mundo que cada vez se me faz mais pequeno. Chamava-se Pedro e meteu-me o bichinho, que a casa já me trazia, da química, do laboratório, deste pequeno futuro. Chamava-se Isabel e ensinou-me a competir em equipa, a ultrapassar os meus próprios limites, a ir mais longe. (havia mais, muitos mais que agora não consigo recordar em detalhe e todos me ensinaram algo!)

O caminho continuou e a figura nunca deixou de existir. Agora, chamava-se Manuel Carlos e ensinou-me a enfrentar as dificuldades matemáticas e a passar por cima delas. Chamava-se Rosa e mostrou-me a magia escondida em todas e cada palavra de Pessoa (e tantos outros!). Chamava-se Rosário e contou-me a história dos povos anglo-saxónicos, ampliou a minha base, deu-me muito do inglês que conheço hoje. Chamava-se Anabela e explicou-me a intrincada Filosofia do Homem e da Vida e, não contente, ensinou-me a Psicologia que hoje me ajuda a perceber tantas coisas. Chamava-se Vitória e fez-me rir como poucos, ensinou-me a compreender a ciência da Terra e da Vida, alinhou em todos os nossos planos. Chamava-se Natália e ensinou-me a física dos movimentos e da luz e de todas essas coisas complicadas e também a base de muita química que tive de aprender anos depois, sempre com um sorriso que espero que, de onde me (nos) esteja a ver, ainda tenha. Chamava-se Rosário e ainda que também nos veja de algum lugar que não sei onde fica mas sei que é bom, ensinou-me de perto a exigência e o rigor que são indispensáveis à preparação de um exame tão importante como foi para mim o de Biologia. Chamava-se Francisco e ensinou-me a importância do desporto, da educação do físico. Chamava-se Augusta e ensinou-me a importância de ser rigoroso nos apontamentos, nas observações microscópicas, nos desenhos, nos relatórios (e quanto tardei a apreciar este ensinamento!). Chamava-se Ana Paula e mostrou-me que o laboratório de química é "a minha praia" e que posso "desperdiçar" a minha vida "entre pipetas" que não me importarei (muito!). Chamava-se Ana Margarida e ensinou-me química, valores, vida, amizade, respeito, carinho, paciência, fé (em mim, nos outros, no futuro...). E outros, que sem me dar uma única aula, me ensinaram que o mundo não tem limites quando o sonho é maior do que nós e o sítio onde vivemos... Chamavam-se Teresa, Jorge, Lúcia, Lena... e levaram-me a dois (re)cantos da Europa.

A etapa seguinte do caminho trouxe tantos, tantos nomes associados a esta figura, que não poderia explicar o que me ensinou cada um. Chamavam-se Carlos, Emília, João, Natércia, Alice, Manuela, Zé Manel, São José, Susana, Luís, Isabel, Madalena, Carla, Elsa, Félix, Fernando, Jorge, Helena, Miguel... Tantos! Tantos que fizeram de mim a profissional que sou hoje e, mais do que isso, a pessoa que, uns dias melhor e outros pior, luta pelo futuro que sonhou.

Talvez, se leste tudo até aqui, te perguntes porque é que descrevi com tanto detalhe tudo isto. Pois, a resposta é muito simples: porque a memória falha. A minha já falhou ao tentar recordar tudo o que aqui escrevi e mais falha a dos Professores cansados, assoberbados, esgotados, mas que nunca desistem. E este texto serve o único propósito de vos lembrar, meus Professores, que vale a pena! Porque o caminho é duro e o respeito cada vez é menor, mas haverá sempre alguém que, ainda que não o diga, se lembrará de tudo o que aprendeu convosco. E por isso vale a pena. Para que ser Professor volte a ser (e nunca deixe de ser) a profissão mais nobre do Mundo: a que assume sobre os seus ombros a formação académica, profissional e pessoal de cada nova geração.

OBRIGADA!

14 de junho de 2013

Envelhecer

Ontem a minha avó fez 84 anos. Liguei-lhe, como faço sempre desde que não lhe posso dar pessoalmente o abraço e o beijinho que merece e a primeira coisa que me disse foi "obrigada por teres telefonado". Contou-me as visitas que recebeu, gostei especialmente quando me disse que tinha lá estado "uma moça minha amiga, que andou comigo na escola, que também fez 84 anos no dia 1 de Junho".

Daqui a muitos anos, se Deus quiser, quando também me for dado celebrar esta idade, espero ser como a minha avó. Espero ser grata, antes de qualquer outra coisa, espero saborear com um brilho especial nos olhos, que se ouve na voz, as visitas dos amigos e, principalmente, espero sentir que os meus amigos continuam a ser (sejam, à data, muitos ou poucos) meninos como ontem, moços como hoje. Espero lembrar-me dos seus aniversários e ligar-lhes ou fazer-lhes uma visita enquanto puder.

A minha avó inspira-me, sempre, em inúmeras coisas. Mas nada terá nunca comparação a este espírito que continua a ser jovem, a viver das coisas pequenas, a lutar contra as dificuldades como se estivessemos em Junho de 53 e as suas velas de aniversário marcassem "apenas" 24 anos. Esta é a arte de envelhecer... e eu espero que esteja nos meus genes. :)

28 de maio de 2013

Folha em branco.

Hoje quis sentar-me e escrever, escrever sem parar e, contudo, sinto que são sempre as mesmas, as minhas palavras. Regresso no tempo para rever o que escrevi há um ano, há dois, há cinco, há dez. Repito-me infinitamente, cansativamente. Às vezes chego a perguntar-me o que faz com que alguém ainda me leia. Ou me ouça. Porque da minha boca, como da ponta dos meus dedos, saem sempre as mesmas palavras. Sempre o mesmo para ler nas entrelinhas, sempre os mesmos sentimentos, as mesmas dores que sem sucesso tento disfarçar, as mesmas alegrias que, essas sim, serão eternas.

Hoje quis escrever tudo o que trago dentro e percebi que não há nada novo. E fiquei em branco...

20 de maio de 2013

O amor há-de vencer.

Um dia dás por ti a mostrar o teu país, a(s) tua(s) cidade(s) a alguém que nunca o viu, que em alguns casos nunca ouviu falar da sua existência, que mal o sabia colocar no mapa. Dás por ti a falar com paixão das praias, dos montes, do verde dos campos e do azul do imenso oceano  onde o teu olhar, invariavelmente, se perde. Dás por ti a falar com entusiasmo do que conquistámos, por esse mundo fora, por sermos mais corajosos, mais aventureiros, quiçá mais inconscientes do que todos os outros. Dás por ti a falar, com um brilho nos olhos, das palavras que tantos escreveram na nossa língua, dos acordes que soaram, das vozes que levaram mais longe este nome com 870 anos de História. Dás por ti a falar, com amor, de Portugal.

É aí que te dás conta que um dia, esse amor há-de vencer as crises, os mercados, as bancas, os défices, as dívidas, as dificuldades. Que um dia esse amor há-de fazer nascer o sol que rasga qualquer escuridão, aquela que vive na alma de tantos, que como tu, nasceram dentro destas fronteiras.  Que um dia esse amor há-de libertar a alma dos que sonham com um dia melhor. E que um dia, quando se ouvir esse cântico final, se cumprirá o amor a Portugal.

Esse amor que nos levará, cada dia, mais longe, enquanto nos traz de volta a casa, sempre. Porque sem esse amor que nos dá asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar... seria menos eu.

6 de maio de 2013

Regra número um.

Sete anos depois da minha primeira Queima das Fitas, parti este sábado para o Porto com um aperto no peito que não conseguia descrever. Parecia ansiedade, saudade antecipada, mas era também orgulho e admiração e felicidade. Dentro do meu peito havia um nó tão grande de emoções que podia já antecipar as muitas lágrimas que haviam de aliviar essa pressão e exprimir o que nem sempre as palavras conseguem.

Queria ver-vos, abraçar-vos, guardar-vos no meu abraço só mais uns minutos, enquanto o tempo e a vida não vos levarem para longe, para onde os vossos sonhos quiserem ir. Queria dizer-vos, uma vez mais, o quanto agradeço, dia após dia, que nos tenhamos cruzado naquela casa que nos fez adultos, homens e mulheres, pessoas maiores, em tantos e tão diversos sentidos. Queria dizer-vos que fui muito feliz convosco, mesmo nas dificuldades e nas pequenas divergências, que fui muito mais feliz convosco do que alguma vez poderia esperar. Queria dizer-vos que estou onde me quiserem, sempre, ao vosso lado, à vossa disposição, ao vosso serviço.

E, uma vez mais, tudo aconteceu de repente, o tempo voou e aquelas pouco mais de 24 horas em que estive no Porto passaram a correr, entre abraços, sorrisos e muitas, muitas lágrimas. Lágrimas de orgulho e felicidade, de alguma nostalgia, também. Mas sobretudo, lágrimas de alegria, de sensação de missão cumprida, de fecho de um ciclo, de conclusão, em glória, de um caminho. Vi-vos adultos, homens e mulheres, pessoas maiores e vi como conseguiram apreciar esse momento. Como o mereceram. Como o viveram. E essa intensidade, esse brilho nos olhos, esse sabor a pouco, a tempo que não volta, a efémero, a algo tão profundo como feliz... inconfundível. Esse olhar que é mistura de alegria e saudade, que é dor de deixar para trás algo tão profundamente bom e alegria de concluir mais uma etapa... é inesquecivelmente familiar.

Voltei com o coração a transbordar de um amor que nunca poderei explicar. De uma sensação de ter contribuído com o meu pequeno grão de areia para esse castelo gigante que vocês construíram. E que é vosso, completamente vosso, mesmo que dois ou três grãos de areia vos tenham sido dados por outros como eu. Porque vocês quiseram acolhê-los, entendê-los e usá-los da melhor maneira.

Aos caloiros exemplares de 2007+1, aos finalistas exemplares de 2013... obrigada.

"Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
E o mundo nos leve pra longe de nós
Nunca mais estaremos perdidos..."

Somos UM só.

25 de abril de 2013

Como bola colorida...

Cumprem-se hoje 39 anos sobre um dia que não vivi, mas que sempre me contaram como histórico, como memorável, como inesquecível. 39 anos depois, talvez às vezes nos seja difícil  reconhecer tudo o que este 25 de Abril de há tantos anos nos trouxe. Talvez seja difícil reconhecermo-nos livres. E, por isso, importa lembrar, celebrar, marcar, viver este dia como se tivesse passado apenas uma semana, um mês, um ano. Viva o 25 de Abril! Viva a liberdade!

Viva este dia que amo, sem o ter vivido, como se ama a liberdade, como se ama o mais profundo que há em nós, que nunca poderemos dar como garantido!

"Eles não sabem que o sonho
É tela, é cor, é pincel
(...)
Mapa do mundo distante
Rosa dos ventos, infante
Caravela quinhentista
Que é cabo da boa-esperança"

10 de abril de 2013

Um ano, sete meses e três dias.

Hoje este texto fez-me pensar. Há pequenas coisas com as quais não concordo, mas sem dúvida é impossível não me rever nesta descrição simples, emocional e verdadeira do que se sente quando se está "fora". A eterna sensação de nunca estar completamente "dentro", em nenhuma das "casas". Às vezes sabe a privilégio, outras vezes sabe a divisão. De tudo, principalmente de sentimentos.

"Há um medo palpável em viver noutro país e ainda que seja mais agudo nos primeiros meses ou até no primeiro ano da tua estadia, este medo nunca desaparece completamente à medida que o tempo passa. Simplesmente muda. A ansiedade que estava antes concentrada em como irias fazer amigos novos, adaptar-te e dominar as particularidades do idioma transformou-se na pergunta repetida: "O que é que eu estou a perder?" À medida que te instalas na tua nova vida e no teu novo país, à medida que o tempo passa e se torna menos uma questão de há quanto tempo estás aqui e mais uma questão de há quanto tempo foste embora, apercebes-te que a vida em "casa" continuou sem ti. As pessoas cresceram, mudaram de casa, casaram, tornaram-se pessoas completamente diferentes - e tu também." (tradução livre daqui: "What happens when you live abroad", de Chelsea Fagan)


18 de março de 2013

No need to say goodbye.

É um sentimento visceral, como se um pequeno monstrinho se instalasse no peito e, com mil braços, fosse apertando a pouco e pouco o coração. Às vezes desaperta, deixa respirar durante muito tempo e, de repente, algo o faz voltar à sua missão. É um sentimento que vem de dentro, do mais profundo do organismo e cresce, cresce até ocupar um espaço que parecia não existir. Às vezes é tão imperceptível, na corrida do dia-a-dia, na azáfama da rotina, que quase parece não estar lá. Mas de repente há um gesto, uma imagem, uma expressão, uma memória. E tudo volta, uma avalanche, uma derrocada, de uma vez só.

Este sentimento ocupa tanto espaço que às vezes desvia a atenção de tudo o resto. Como se nada mais pudesse coexistir no mesmo tempo, no mesmo lugar. Mas não é verdade. Este sentimento existe apenas para nos lembrar que em algum lugar, com alguma pessoa, em algum momento, fomos incrivelmente felizes.

É a saudade, a palavra sem tradução, o sentimento visceral, a "nossa alma dizendo para onde quer voltar".

Damn you, London, damn you...

13 de fevereiro de 2013

Don't dream it's over!

No arranque da Quaresma, ouço esta canção com outros ouvidos. E penso que, caramba, só Tu estás mesmo em todo o lado, só a Ti te podemos descobrir até na letra de uma canção pop dos anos 80, que já ouvimos milhares de vezes. Porque, agora que arranca a Quaresma, há uma batalha à nossa frente e, ainda que de muitas tenhamos saído derrotados, nunca veremos o final da estrada se caminhamos conTigo. Porque, ainda que os jornais nos contem sempre histórias de guerra e desperdício, não podemos pensar que tudo acabou quando o mundo nos invade e tenta construir um muro entre nós... Porque "eles" não vencerão. Porque, nestes 40 dias como em todos, Tu caminhas a um ritmo novo, a caminho dos nossos corações.

There is freedom within, there is freedom without
Try to catch the deluge in a paper cup
There's a battle ahead, many battles are lost
But you'll never see the end of the road
While you're traveling with me

Hey now, hey now
Don't dream it's over
Hey now, hey now
When the world comes in
They come, they come
To build a wall between us
We know they won't win

Now I'm towing my car, there's a hole in the roof
My possessions are causing me suspicion but there's no proof
In the paper today, tales of war and of waste
But you turn right over to the TV page

Hey now, hey now
Don't dream it's over
Hey now, hey now
When the world comes in
They come, they come
To build a wall between us
We know they won't win

Now I'm walking again to the beat of a drum
And I'm counting the steps to the door of your heart
Only shadows ahead, barely clearing the roof
Get to know the feeling of liberation and release

Hey now, hey now
Don't dream it's over
Hey now, hey now
When the world comes in
They come, they come
To build a wall between us
We know they won't win

Well, don't let them win
Hey now, hey now
Don't let them win
Don't let them win, yeah

12 de fevereiro de 2013

Escrever é como regressar a casa.

Duzentas. Duzentas vezes escrevi e partilhei algo no Abrigo que construí há mais de sete anos, neste meu refúgio de escrita e ligação com o mundo. Na altura, naquele dia 18 de Dezembro de 2005, O Meu Abrigo começava "porque, para mim, escrever é como regressar a casa".

Já escrevi neste abrigo de muitas casas, reais e metafóricas. Nestes sete anos, já vivi em 6 casas, em 5 cidades, em 4 países, durante períodos tão curtos como as 5 semanas em Ljubljana ou tão largos como os quase 20 anos que passaram desde que fomos viver para aquela que é, originalmente, "a minha casa". Esta expressão é, cada vez mais, complicada. Sinto-me cada vez mais na necessidade de esclarecer, "a minha casa de Aveiro", "a minha casa de Santiago" (às vezes até "a minha casa da praia", vejam só o luxo!)... E é, definitivamente, um luxo poder dizê-lo.

Mas as casas fazem-se. Principalmente das pessoas que nelas habitam, mas também das que ajudam a fazer de cada cidade, de cada país, de cada novo ambiente, uma nova "casa". Por isso, 200 posts, 6 casas, 5 cidades, 4 países depois, obrigada.

"The trouble it might drag you down,
If you get lost you can always be found...
Just know you're not alone,
Cause I'm gonna make this place your home..."

31 de janeiro de 2013

No te rindas...

«No te rindas, aún estas a tiempo
de alcanzar y comenzar de nuevo,
aceptar tus sombras, enterrar tus miedos,
liberar el lastre, retomar el vuelo.

No te rindas que la vida es eso,
continuar el viaje,
perseguir tus sueños,
destrabar el tiempo,
correr los escombros y destapar el cielo.

No te rindas, por favor no cedas,
aunque el frio queme,
aunque el miedo muerda,
aunque el sol se esconda y se calle el viento,
aun hay fuego en tu alma,
aun hay vida en tus sueños,
porque la vida es tuya y tuyo tambien el deseo,
porque lo has querido y porque te quiero.

Porque existe el vino y el amor, es cierto,
porque no hay heridas que no cure el tiempo,
abrir las puertas quitar los cerrojos,
abandonar las murallas que te protegieron.

Vivir la vida y aceptar el reto,
recuperar la risa, ensayar el canto,
bajar la guardia y extender las manos,
desplegar las alas e intentar de nuevo,
celebrar la vida y retomar los cielos,

No te rindas por favor no cedas,
aunque el frio queme,
aunque el miedo muerda,
aunque el sol se ponga y se calle el viento,
aun hay fuego en tu alma,
aun hay vida en tus sueños,
porque cada dia es un comienzo,
porque esta es la hora y el mejor momento,
porque no estas sola,
porque yo te quiero.»

Mario Benedetti

18 de janeiro de 2013

A saudade é cinzenta.

Porque, mesmo sendo felizes, os dias cinzentos continuam a existir e hoje é um deles. Por fora e, sobretudo, por dentro.

Ainda alguém me há-de explicar porque raio temos de ter saudades. Parabéns avô, mesmo com a chuva que hoje cai dentro de mim, mesmo com todas estas saudades. Ainda que se me encham de lágrimas os olhos por ainda recordar a tua voz, como se fosse ontem.
"Cai chuva do céu cinzento 
Que não tem razão de ser. 
Até o meu pensamento 
Tem chuva nele a escorrer.

Tenho uma grande tristeza 
Acrescentada à que sinto. 
Quero dizer-ma mas pesa 
O quanto comigo minto.

Porque verdadeiramente 
Não sei se estou triste ou não, 
E a chuva cai levemente 
(Porque Verlaine consente) 
Dentro do meu coração."

[Fernando Pessoa]
(o poema fui buscá-lo ao blog da minha querida amiga Catarina, sempre inspiradora.)

17 de janeiro de 2013

Tudo o que quero.

No início de um novo ano cheio de horas por viver, oportunidades, desafios e, muito provavelmente, algumas inevitáveis derrotas, uma amiga perguntou-me "afinal, o que é ser feliz?"

Não sei se o temos sempre assim tão claro, porque há dias cinzentos e nuvens escuras, porque há horas de desespero e momentos de dor. Mas penso que ser feliz é ter a sensação que, aqui e agora, temos tudo o que necessitamos, tudo o que queremos. E ainda que pensemos que falta sempre alguma coisa, que isso não nos impeça de nos sentir felizes.

Para todas as pessoas que amo e com quem é sempre um prazer iniciar um ano novo, esta letra perfeita do David.

«How wonderful to see you here, my love
The whole world happens when you’re near, my love
(...) You were all that i wanted, all that I needed»