26 de fevereiro de 2014

Roubada.

Queria dizer coisas bonitas e ser optimista e positiva e pensar que "vou ter mais uma casa onde ficar" e acreditar que tudo vai continuar igual, que a distância não muda nada, que o afastamento somos nós que o impomos ou o impedimos e todos esses clichés. Queria pensar que estou bem, que sou mais forte que isto, que não vai ser assim tão difícil, que não vou estar assim tão só. Queria acreditar, profundamente, dentro de mim, quando as pessoas me dizem que "outros aparecerão", que hei-de conhecer pessoas novas, que nada vai realmente mudar. Queria tudo isto, acreditem que sim.

Mas, por enquanto, só consigo sentir que a vida, injusta como só ela sabe ser, me está a roubar as minhas pessoas, aquelas com quem me habituei a viver, todos os dias, nos últimos dois anos e meio. Sem piedade, sem beleza, sem pena. E não, não vai ser tudo igual daqui para a frente. Porque a vida, irónica como só ela sabe ser, pôs no meu caminho pessoas que me completam e que, agora, vou ver e ouvir cada vez menos. E sim, eu sei que a separação depende de cada um de nós, mas também sei que a vida é lixada e rotineira e preenchida e, mesmo que queiramos muito, acabaremos por ter cada vez menos tempo para recordar que tudo pode continuar igual, se assim quisermos.

"Por mais que a vida nos agarre assim
Nos troque planos sem sequer pedir
Sem perguntar a que é que tem direito
Sem lhe importar o que nos faz sentir..."

[Mafalda Veiga - "Imortais"]

20 de fevereiro de 2014

Vertigem (de saudade).

Semanas e semanas depois, começo a sair da negação. Acabou. Acabaram estes dois anos, 5 meses e 15 dias de convivência quase diária, de histórias e aventuras, de uma gargalhada ali mesmo ao virar da esquina, de mil e uma conversas e discussões, sobre tudo e mais alguma coisa.

Começo a ter consciência de que tão cedo não iremos juntos ao ginásio ou à missa em São Francisco, que provavelmente nunca mais almoçaremos os 3 em "família", naquele 8º andar da Praça da Galiza, ao som das "tuas" músicas, que só através de ti cheguei a conhecer. Tu, que sempre disseste que isto é uma cápsula no tempo e que é assim que temos de entender que nada do que aqui se cria pode durar para sempre.

Desculpa, mas vou ter de te dizer que não tens razão. Há coisas que nem um oceano atlântico inteiro pode fazer esquecer. Acabam agora dois anos, 5 meses e 15 dias de convivência quase diária, continua uma vida inteira de amizade à nossa frente, a atravessar oceanos, a ultrapassar distâncias.


Hoje, o sítio onde te sentaste durante tantos dias deste tempo, mesmo ali ao meu lado, ficou vazio, completamente vazio, e eu comecei a sair da negação. Já não mais serei "musa inspiradora", se não tiver a quem inspirar... :) E, quando a ignorância me assaltar, já não poderei ter-te ali, mesmo "à mão", para me explicar tudo direitinho, até que eu perceba. Seguiremos juntos, unidos por tanto que vivemos nesta "cápsula", mas... porra! Maldita saudade, que já se entranha...