21 de dezembro de 2015

Jornadas eleitorais

Ontem, neste país onde vivo, celebrou-se mais uma jornada eleitoral, o chamado "20D" (estes tipos gostam destas siglas e usam-nas para tudo). Dado que não tenho possibilidade de votar nestas eleições "gerais" (entenda-se, para formar o Congresso de Deputados e consequentemente o futuro Governo) por ser cidadã do país vizinho - quando mexerem nos impostos digo que não pago porque não tive direito a votar! - decidi fazer uma pequena reflexão/comparação sobre o que ocorreu neste 20D e o que se passou em Portugal no nosso próprio "4O" ou mais propriamente o que aconteceu depois desse dia.

Sem pretensões de analista política (não tenho conhecimentos suficientes para tal), o meu estatuto de "leiga imigrante sem direito a voto" permite-me observar tudo de fora e tirar as minhas próprias ilacções... Ora então:

1) Primeiríssimo e mais importante do que tudo: numas eleições marcadas pelo "voto roubado" (dificuldades impostas aos emigrantes para votar) e outros obstáculos colocados à população para que pudesse participar, a abstenção foi apenas de 27%. Ou seja, em Portugal, numas eleições igualmente importantes em termos de potencialmente mudar o "sistema", a abstenção foi muitíssimo superior (44%). Curioso como isto demonstra que num país tão ou mais marcado pela corrupção como o nosso, num país onde a justiça para esses corruptos tem sido ainda mais lenta e menos fiável, num país de bipartidismo arraigado, onde pouca gente parecia crer que as coisas pudessem mudar, mesmo assim mais de 25 milhões de pessoas exerceram o seu direito/dever. Impressionante. Depois queixamo-nos!

2) Os resultados destas eleições são sumamente curiosos: um equilíbrio impressionante. Um castigo à direita (menos 63 deputados em relação a 2011), que ainda assim não permitiu que esta deixasse de ser a primeira força política no país (um mapa em azul que é um pouco vergonhoso depois de tantos e tantos casos de corrupção expostos e mais que expostos). Um castigo à esquerda socialista que não foi capaz de se reinventar para "destronar" o PP e acaba a perder, ainda que menos significativamente (menos 20 deputados em relação a 2011). Uma entrada poderosa de dois partidos "emergentes", sobretudo de Podemos, reflexo não só da vontade de mudança da população, mas também do medo a essa mesma mudança, já que a "reviravolta" poderia ter sido ainda mais impressionante. Principalmente, agrada-me a perspectiva de que já nada se pode fazer sem dialogar, sem negociar, sem ceder, sem chegar a acordos. Tal como em Portugal... Mas o mais curioso de tudo é que aqui a possibilidade de um acordo de governação à esquerda, com cedências entre PSOE, Podemos e Izquierda Unida e com a "conivência" dos nacionalistas, é algo considerado totalmente normal! É apenas mais uma das hipóteses que se configuram neste complicado cenário político. Coisa que não aconteceu em Portugal, com acusações de "eleições ganhas na secretaria", etc... Interessante...

3) Uma última nota para a injustiça BRUTAL que constitui a lei eleitoral espanhola, regida pelo método de Hondt conjugado com uma eleição por circunscrição provincial. Este sistema leva a que, por exemplo, para que o Partido Popular possa eleger um deputado, sejam necessários aproximadamente 60000 votos; contrariamente, a Unidad Popular (Izquierda Unida), para eleger um deputado, necessita de aproximadamente 400000 votos (quase 7 vezes mais). Esta situação é inaceitável já que conduz a que o voto de um cidadão de uma determinada província tenha mais valor que o de outro cidadão de outra província, algo pouco compreensível num país democrático. Talvez este seja o primeiro ponto que o futuro governo deva discutir, com urgência, seja de que hemisfério político for...

E agora, esperemos para ver se o Congresso deixa passar 4 anos mais de Mariano Rajoy e amigos (duvido), se a esquerda se entende com Pedro Sánchez à cabeça (difícil) ou se dentro de uns meses os meus amigos espanhóis estarão de novo a votar para as "generales" e eu a fazer as minhas apreciações... :)

18 de dezembro de 2015

Mudámos.

Faz hoje 10 anos, pouco tempo depois de iniciar uma nova etapa na minha vida, dava vida a este espaço, um abrigo para as palavras que transbordavam, para os sentimentos que precisavam de ser expressados, para as dúvidas, as inseguranças, as tristezas, mas também para as alegrias, as conquistas e os motivos para sorrir que ia tendo.

Foram 10 anos de escrita, nem sempre muito regular, até ao dia de hoje. Esta é a publicação número 250 d'O Abrigo e é também sinal de um ponto de viragem, 10 anos depois.

Neste tempo, muita coisa mudou. Sobretudo, mudou a rapariguinha de 18 anos que escrevia num blog o que lhe passava pela cabeça e pelo coração. Mudei como pessoa, mudei de ideias sobre algumas coisas, mudei de casa(s), de pessoa(s), de vida. Mantendo a personalidade que fui construindo ao longo destes 28 anos, sou hoje sem dúvida uma pessoa muito diferente daquela que decidiu a 18 de Dezembro de 2005 começar a escrever neste espaço.

Mas mudou também O Abrigo. Mudou o conceito, o tipo de coisas que escrevia, o estilo de escrita. Por isso, ao fim de 10 anos de progressiva mudança, renasce este novo Abrigo. Mudámos os dois (também de aparência! :) ) e por isso hoje começa uma nova etapa para este espaço. Partilharei mais escrita pessoal, mais textos e poemas, algumas opiniões, algumas "crónicas" das viagens que vou tendo a felicidade de poder fazer... Principalmente, partilharei e escreverei mais. É um compromisso que quero honrar, para evitar deixar para segundo plano uma das coisas que me faz mais feliz: escrever.

Se nos acompanhaste (a mim e ao Abrigo), por mais ou menos tempo, ao longo destes 10 anos: obrigada. Muitas vezes tive a tentação de deixar de alimentar este espaço, mas dentro de mim sempre algo me disse que valia a pena, por uma só pessoa que fosse que gostasse de me ler. Obrigada a ti, que és uma dessas pessoas! Hoje O Abrigo renasce para ti.

2 de outubro de 2015

Braços baixos não se querem ver!

Foi ontem, o dia mundial da música. É depois de amanhã, o dia de tentar mudar alguma coisa. Talvez nada melhore, talvez o que esperamos não se cumpra, talvez continue a faltar cumprir-se Portugal, talvez continuemos a "dormir", à espera. Mas em cada dia é-nos dada essa oportunidade e está nas nossas mãos fazer alguma coisa. Hoje, o meu desafio é para que saiamos de nós e nos arrisquemos a mostrar as nossas falhas, mas também as coisas que nos fazem felizes. Já tem dois anos, esta gravação, mas nunca tinha saído dos confins dos nossos computadores... Foi um dia feliz, divertimo-nos e fizemos algo com falhas mas, humildemente, bonito. Amanhã é outro dia! Acorda, Portugal!

(a música e letra são do Tiago Bettencourt, a interpretação foi a possível por mim e pelo Miguel Conde, a montagem e edição são do Luís Nuno, a foto de fundo é do meu amigo Felipe Villarroya e o vídeo é do meu fraco talento para o Movie Maker! :D )

17 de setembro de 2015

Escolhi ser feliz.

Faz hoje 10 anos. Recebi uma chamada que confirmava as minhas previsões: tinha garantido o meu lugar na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Foi a melhor decisão da minha vida e, dez anos depois, só o posso confirmar.

Faz 10 anos que entrei em Farmácia, que fui caloira, que vesti de roxo, que fui praxada e, sobretudo, que comecei a viver os melhores anos destes 28 que cá cantam. Faz 10 anos que entraram na minha vida grandes amigos, dos mais velhos aos mais novos, pessoas maravilhosas que ainda hoje preenchem os meus dias de sorrisos e alegrias, apesar da distância. Pessoas que sinto saudades de abraçar, diariamente.

Faz 10 anos que comecei a aprender a ser farmacêutica, uma profissão nobre da que muito me orgulho. Mas também faz 10 anos (mais mês, menos mês...) que comecei a aprender a ser investigadora, a ser praxista, a ser Sirigaita, a ser AEFFUP, a trazer o roxo no coração e a levar esta marca onde quer que vá.

Não há coincidências. Há 10 anos fiz a melhor escolha da minha vida e jamais me hei-de arrepender. Por mais voltas que a vida dê, ainda que a vida mudasse tanto que nunca chegasse a exercer a minha profissão, naquelas quatro paredes de Aníbal Cunha eu fui MUITO feliz, e isso é algo que ninguém me poderá nunca roubar. Obrigada. :')

(neste agradecimento incluem-se todos os que estão perfeitamente identificados dentro de mim... os professores, os funcionários, o laboratório de QO, os doutores, os veteranos, os caloiros, os amigos, as direcções da AE, os 05/09+1, os Pintarolas... todos. :) )

(foto do meu amigo Quim Monteiro :) )

13 de setembro de 2015

Dias de sorte.

No silêncio dos segredos,
amanheceste em mim.
Foste luz na madrugada,
foste esperança no fim da noite,
foste vida saída da escuridão.
Amanheceste e fiz-me nova,
reconstruída do chão,
renascida das cinzas,
fénix de asas vermelhas no céu azul,
rio de prata a correr de novo para o mar.

E eu que sou de palavras,
aprendi a cor do silêncio,
voei ao sabor do vento,
iluminei caminhos com sorrisos,
construí castelos com abraços,
fiz-me nova, a cada dia,
e aprendi a ser feliz.

[05.05.2015]

3 de setembro de 2015

Perdão.

Olho à minha volta, vejo, leio, penso e repenso uma e outra vez no mesmo, enchem-se-me os olhos de lágrimas... E continuo a regressar à mesma frase: "Will God ever forgive us for what we've done to each other?" (do filme "Diamante de Sangue") Será? Será que continuará inequivocamente a perdoar-nos por tudo, tudo o que temos feito uns aos outros? A cada dia que passa o mundo parece um lugar mais assustador e, ao mesmo tempo, tudo parece tão longínquo deste pequeno recanto da Terra onde vivo os meus dias. Não sei se quero que este mundo seja o meu, não sei se quero ser considerada igual a estas pessoas que se fecham ao desespero e ao sofrimento dos irmãos, mas também não sei se estou a fazer tudo o que posso por ser diferente. A cada dia que passa, o ser humano vai contribuindo para que eu me desengane e deixe de acreditar que as pessoas são intrinsecamente boas mas cometem erros e têm atitudes más. Caminhamos não sei bem para onde, mas é importante que nos lembremos sempre, como li hoje num blog que admiro, que a Europa somos nós, o Mundo somos nós e nenhuma crítica, nenhum dedo apontado às atitudes dos outros nos ilibam de culpa. Não sei se alguma vez aprenderemos com os erros, mas só consigo pensar que um dia seremos olhados como a geração que permitiu que estes horrores acontecessem. E, Deus nos perdoe, havemos de nos enterrar mais e mais fundo nos nossos túmulos, cobertos de vergonha. Porque continuo sem compreender como algumas pessoas conseguem dormir com as suas próprias consciências. Como se podem perdoar a si próprios.

3 de junho de 2015

Como un documento inalterable.

Los que hemos elegido esta forma de vida, esta curiosidad por el mundo y por la vida como profesión, a menudo nos sentimos desubicados, hijos de ninguna tierra, corazones rotos y esparcidos por todos los cantos del mundo por donde hemos pasado. Como si, a cada año que pasa, nos vayan robando personas y lugares, nos sigan arrancando de los abrazos y de las memórias donde estamos cómodos. Es una realidad inevitable y, sin embargo, siempre dolorosa. La vamos ignorando mientras pasan los días, porque sería insoportable de otra forma, pero en algún momento tenemos que enfrentarnos con ella y asumirla.

Entonces puede haber quién diga, "para qué te diste tanto, para qué te has unido tanto a esas personas?". Porque no sabría ser de otra manera. Donde vaya, donde esté, donde sea, ofreceré siempre mi corazón. Y la vida me enseña que merece la pena, siempre que, del otro lado, hay alguién que me ofrece también parte del suyo. Entonces nada más importa, nada está perdido.


15 de maio de 2015

"Recuerda tú que puedes"



Li por aí que hoje é o dia da Família. Hoje é sem dúvida um dos dias da minha (parabéns pequena Madalena! :) ), mas sobretudo saber disto fez-me pensar em quem somos e como vivemos. 

Quando falo da minha família digo sempre que não somos muitos mas andamos sempre juntos para todo o lado. Porque os caminhos da vida nos levaram e continuarão a levar sempre por mil e um lugares, onde vamos construindo a(s) vida(s) e novos núcleos da mesma família, mas nem isso nos separa. Recordo as mil e uma celebrações familiares, mas principalmente vem-me à memória o dia da minha Imposição de Insígnias, com (quase) todos ali a ver-me rir e chorar e inundar-me de felicidade. Não sei se alguém levou tanta família como eu a esse evento, mas sei que não poderia ser de nenhuma outra forma. Um dia chegarei também ao fim desta luta e sei que os terei perto, de novo (porque não se pode estar mais perto do que aqueles que trazemos dentro).

A família é a casa das nossas primeiras e de todas as mais importantes recordações. Nela escrevemos algumas das páginas mais bonitas da nossa história e, às vezes, é nela que vamos buscar o que o tempo nos roubou da memória. Porque o corpo falha e pode chegar a apagar o que guardámos com tanto amor, mas enquanto tivermos quem nos recorde, teremos quem nos ajude a recordar. Neste dia da família oiço esta canção e penso que é nosso dever devolver a quem nos ama as suas memórias, da forma que melhor pudermos. Neste dia da família penso no medo de perder esses pedaços de história e na minha avó, que não se lembra do meu nome mas sorri sempre quando me vê, porque sabe que não somos estranhas. Quem me dera poder devolver-te a imagem da avó desempoeirada, despachada e activa que guardo comigo...

12 de maio de 2015

Puedo escribir.

Quiero pensar y no puedo,
ahogas mis ideas con una marea de palabras.
Quiero creer y no puedo,
destruyes la base de mi castillo de cartas,
con un sólo toque.
Quiero soñar y no puedo,
en ti no cabe la esperanza de la imaginación.

Pero puedo escribir,
gritarte en MAYÚSCULAS,
calmarme con puntos suspensivos...
Respirar entre cada párrafo.

Y derramar todas las lágrimas que no mereces,
que no merezco.

[12.05.15]

9 de abril de 2015

Mapas.

Já dei mil voltas às palavras que pairam na minha cabeça, mas é tão simples como isto:

Sei o que quero ser "quando for grande" e não importa quão duro seja o caminho até lá chegar.



10 de março de 2015

O porquê do silêncio.

Há pessoas para quem os tempos conturbados são de muitas palavras. Há pessoas para quem, nas fases difíceis, as palavras se atropelam como se estivessem guardadas há demasiado tempo, como se estivessem só à espera do momento exacto para sair.

Eu não sou assim. Quando as coisas me custam, não sei o que dizer. Quando a motivação me falta, não sei o que escrever. Quando a luzinha ao fundo do túnel (ou serão vários túneis?) enfraquece, eu fico sem palavras ou, pelo menos, sem nada para contar. Porque os dias tristes são todos iguais, porque as batalhas que não queremos ou não podemos lutar não são como as vitórias das quais nos queremos gabar.

Mas o silêncio nem sempre é o melhor conselheiro, nem sempre traz soluções, nem sempre abre portas, nem sempre ilumina o caminho. Às vezes há que forçar as palavras, para as encontrar.

A luz é pálida mas pouco a pouco volta a acender-se. Ainda não a vejo muito, muito bem, mas sei que lá chegarei. Pelo caminho talvez tenha que rasgar algumas cortinas, saltar alguns obstáculos, levantar-me algumas vezes do chão. Mas hei-de encontrar as palavras. E a força. Não estarei sozinha.

13 de fevereiro de 2015

Tempo.

Nem sempre há motivos para romper o silêncio. Nem sempre há algo para dizer. Nem sempre há palavras que nos pressionem tanto a alma que não as possamos conter.

Mas às vezes, em dias como hoje, procuro as palavras e não as encontro. Encontrei a Mariza e não há mais nada que eu queira realmente dizer, hoje.

"Eu sei
Que a vida tem pressa
Que tudo aconteça
Sem que a gente peça
Eu sei

Eu sei
Que o tempo não pára
O tempo é coisa rara
E a gente só repara
Quando ele já passou

Não sei se andei depressa demais
Mas sei, que algum sorriso eu perdi
Vou pedir ao tempo que me dê mais tempo
Para olhar para ti
De agora em diante, não serei distante
Eu vou estar aqui"

7 de janeiro de 2015

There is another sky.

Comecemos 2015 com poesia n'O Abrigo. Encontrei-me no outro dia com este poema de Emily Dickinson (dizia um desses testes "parvos" da internet que era "o meu poema") e como gostei, aqui fica, como inspiração para este novo ano, como porta aberta para outro céu e outra luz a iluminar um novo jardim, cheio de oportunidades. É um novo ano, façamo-nos novas pessoas! :)

"There is another sky,
Ever serene and fair,
And there is another sunshine,
Though it be darkness there;
Never mind faded forests, Austin,
Never mind silent fields -
Here is a little forest,
Whose leaf is ever green;
Here is a brighter garden,
Where not a frost has been;
In its unfading flowers
I hear the bright bee hum:
Prithee, my brother,
Into my garden come!"

Emily Dickinson