«Minha laranja amarga e doce,
Meu poema feito de gomos de saudade,
Minha pena, pesada e leve
Secreta e pura,
Minha passagem para o breve,
Breve instante da loucura.
Minha ousadia, meu galope, minha rédea,
Meu potro doido, minha chama,
Minha réstia de luz intensa, de voz aberta,
Minha denúncia do que pensa,
Do que sente a gente certa.
Em ti respiro, em ti eu provo,
Por ti consigo esta força que de novo
Em ti persigo, em ti percorro,
Cavalo à solta pela margem do teu corpo...
Minha alegria, minha amargura,
Minha coragem de correr contra a ternura...
Minha laranja amarga e doce,
Minha espada, poema feito de dois gumes,
Tudo ou nada.
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sossego,
À desfilada no meu peito...
Por isso digo: canção castigo,
Amêndoa, travo, corpo, alma,
Amante e amigo.
Por isso canto, por isso digo:
Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo.
Minha alegria, minha amargura,
Minha coragem de correr contra a ternura...
Minha ousadia, minha aventura,
Minha coragem de correr contra a ternura...»
[José Carlos Ary dos Santos, um senhor.]
E, de repente, podia ser eu a dirigir estas palavras a uma cidade de quem hoje me separei mais um bocadinho. Obrigada, Porto, por 5 anos de tudo e mais alguma coisa :')