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6 de março de 2017

Amar pelos dois.

Em 74 levámos "E depois do adeus", canção que dispensa apresentações e que marcou a nossa história. Três pontos na final, décimo-quarto lugar. Em 76 levámos "Uma flor de verde pinho", poema sublime de Manuel Alegre, interpretado pelo enorme e eterno Carlos do Carmo. Dois pontos na final, décimo-segundo lugar. Em 84 levámos "Silêncio e tanta gente", um "one woman show" de Maria Guinot absolutamente impressionante. Trinta e oito pontos na final, décimo-primeiro lugar.

Canções maravilhosas, ignoradas no grande "show" da música europeia. Canções-balada, cantadas em português. Também já levámos canções animadas como "A festa da vida", "Playback", "Conquistador" ou "O meu coração não tem cor". Salvo esta última, os resultados não foram muito melhores para este "tipo" de canções. Por isso, no dia em que alguém conseguir definir o que é "uma canção de festival", poder-se-ão classificar segundo esse critério as nossas participações. Enquanto isso não acontece, penso que a canção da Luísa e do Salvador é simplesmente uma belíssima balada de amor, digna representante da maravilhosa música que se faz no nosso país.

22 de julho de 2016

Em círculo.

Fomos Nova Iorque, 11 de Setembro, estarrecidos.
Fomos Madrid, 11 de Março, confusos e surpreendidos.
Fomos Londres, Oslo, Boston, Paris, Ancara e Bruxelas.
Fomos Charlie porque nos tocava,
Aylan porque nos chocava.

Mas esquecemos.

Todos os dias nos esquecemos de ser paz, abraço, abrigo, amor.
Combatemos a guerra de armas nas mãos,
sem nos darmos conta que a estamos a alimentar.
Combatemos o medo de insultos na boca,
sem nos darmos conta que o estamos a semear.

Há tanto ruído que já não ouvimos,
já não nos escutamos.

Quando é que falar se fez mais importante do que ouvir?
Quando é que fugir, esconder, proteger,
se tornaram mais importantes do que estar, olhar, arriscar, SENTIR?

Fomos tudo sem ser nada.
Fomos tudo o que o mundo quis ouvir,
nada do que um dia,
ao olhar para trás,
gostaríamos de ter sido.

Porque no meio do barulho,
das vozes,
dos insultos,
das armas,
do medo,

no meio do medo tem que poder continuar a florescer o amor.

No meio de nós,
no meio do nosso medo de sucumbir,
têm de persistir uns braços abertos,
entregues,
confiantes,
ousados,
diferentes.

Se continuarmos a virar nas mesmas esquinas,
nunca mudaremos o nosso destino.

[12.4.2016]

21 de dezembro de 2015

Jornadas eleitorais

Ontem, neste país onde vivo, celebrou-se mais uma jornada eleitoral, o chamado "20D" (estes tipos gostam destas siglas e usam-nas para tudo). Dado que não tenho possibilidade de votar nestas eleições "gerais" (entenda-se, para formar o Congresso de Deputados e consequentemente o futuro Governo) por ser cidadã do país vizinho - quando mexerem nos impostos digo que não pago porque não tive direito a votar! - decidi fazer uma pequena reflexão/comparação sobre o que ocorreu neste 20D e o que se passou em Portugal no nosso próprio "4O" ou mais propriamente o que aconteceu depois desse dia.

Sem pretensões de analista política (não tenho conhecimentos suficientes para tal), o meu estatuto de "leiga imigrante sem direito a voto" permite-me observar tudo de fora e tirar as minhas próprias ilacções... Ora então:

1) Primeiríssimo e mais importante do que tudo: numas eleições marcadas pelo "voto roubado" (dificuldades impostas aos emigrantes para votar) e outros obstáculos colocados à população para que pudesse participar, a abstenção foi apenas de 27%. Ou seja, em Portugal, numas eleições igualmente importantes em termos de potencialmente mudar o "sistema", a abstenção foi muitíssimo superior (44%). Curioso como isto demonstra que num país tão ou mais marcado pela corrupção como o nosso, num país onde a justiça para esses corruptos tem sido ainda mais lenta e menos fiável, num país de bipartidismo arraigado, onde pouca gente parecia crer que as coisas pudessem mudar, mesmo assim mais de 25 milhões de pessoas exerceram o seu direito/dever. Impressionante. Depois queixamo-nos!

2) Os resultados destas eleições são sumamente curiosos: um equilíbrio impressionante. Um castigo à direita (menos 63 deputados em relação a 2011), que ainda assim não permitiu que esta deixasse de ser a primeira força política no país (um mapa em azul que é um pouco vergonhoso depois de tantos e tantos casos de corrupção expostos e mais que expostos). Um castigo à esquerda socialista que não foi capaz de se reinventar para "destronar" o PP e acaba a perder, ainda que menos significativamente (menos 20 deputados em relação a 2011). Uma entrada poderosa de dois partidos "emergentes", sobretudo de Podemos, reflexo não só da vontade de mudança da população, mas também do medo a essa mesma mudança, já que a "reviravolta" poderia ter sido ainda mais impressionante. Principalmente, agrada-me a perspectiva de que já nada se pode fazer sem dialogar, sem negociar, sem ceder, sem chegar a acordos. Tal como em Portugal... Mas o mais curioso de tudo é que aqui a possibilidade de um acordo de governação à esquerda, com cedências entre PSOE, Podemos e Izquierda Unida e com a "conivência" dos nacionalistas, é algo considerado totalmente normal! É apenas mais uma das hipóteses que se configuram neste complicado cenário político. Coisa que não aconteceu em Portugal, com acusações de "eleições ganhas na secretaria", etc... Interessante...

3) Uma última nota para a injustiça BRUTAL que constitui a lei eleitoral espanhola, regida pelo método de Hondt conjugado com uma eleição por circunscrição provincial. Este sistema leva a que, por exemplo, para que o Partido Popular possa eleger um deputado, sejam necessários aproximadamente 60000 votos; contrariamente, a Unidad Popular (Izquierda Unida), para eleger um deputado, necessita de aproximadamente 400000 votos (quase 7 vezes mais). Esta situação é inaceitável já que conduz a que o voto de um cidadão de uma determinada província tenha mais valor que o de outro cidadão de outra província, algo pouco compreensível num país democrático. Talvez este seja o primeiro ponto que o futuro governo deva discutir, com urgência, seja de que hemisfério político for...

E agora, esperemos para ver se o Congresso deixa passar 4 anos mais de Mariano Rajoy e amigos (duvido), se a esquerda se entende com Pedro Sánchez à cabeça (difícil) ou se dentro de uns meses os meus amigos espanhóis estarão de novo a votar para as "generales" e eu a fazer as minhas apreciações... :)

3 de setembro de 2015

Perdão.

Olho à minha volta, vejo, leio, penso e repenso uma e outra vez no mesmo, enchem-se-me os olhos de lágrimas... E continuo a regressar à mesma frase: "Will God ever forgive us for what we've done to each other?" (do filme "Diamante de Sangue") Será? Será que continuará inequivocamente a perdoar-nos por tudo, tudo o que temos feito uns aos outros? A cada dia que passa o mundo parece um lugar mais assustador e, ao mesmo tempo, tudo parece tão longínquo deste pequeno recanto da Terra onde vivo os meus dias. Não sei se quero que este mundo seja o meu, não sei se quero ser considerada igual a estas pessoas que se fecham ao desespero e ao sofrimento dos irmãos, mas também não sei se estou a fazer tudo o que posso por ser diferente. A cada dia que passa, o ser humano vai contribuindo para que eu me desengane e deixe de acreditar que as pessoas são intrinsecamente boas mas cometem erros e têm atitudes más. Caminhamos não sei bem para onde, mas é importante que nos lembremos sempre, como li hoje num blog que admiro, que a Europa somos nós, o Mundo somos nós e nenhuma crítica, nenhum dedo apontado às atitudes dos outros nos ilibam de culpa. Não sei se alguma vez aprenderemos com os erros, mas só consigo pensar que um dia seremos olhados como a geração que permitiu que estes horrores acontecessem. E, Deus nos perdoe, havemos de nos enterrar mais e mais fundo nos nossos túmulos, cobertos de vergonha. Porque continuo sem compreender como algumas pessoas conseguem dormir com as suas próprias consciências. Como se podem perdoar a si próprios.

21 de janeiro de 2014

Dos bodes expiatórios...

Falemos, pois, de Praxe. Outra vez. Não porque tenha mudado de opinião (nem muito menos), desde que escrevi esse texto em Agosto de 2012 ou desde que contactei com a Praxe pela primeira vez, a 26 de Setembro de 2005. Mas porque, uma vez mais, me ferve o sangue com coisas que vou lendo por essa comunicação social fora.

Desta vez, porém, vou ser muito sucinta:

Os seis estudantes da Lusófona NÃO morreram no dia 15 de Dezembro por causa da Praxe.

Fui clara? Espero que sim. Infelizmente, aqueles seis jovens faleceram por uma (ou mais) de várias razões (que espero sinceramente que se cheguem a esclarecer!): 
  • Porque uma maldita onda os engoliu apanhando-os totalmente desprevenidos (como acontece em tantos verões!);
  • Porque foram totalmente inconscientes e acharam que era seguro estar na orla do mar, naquela noite, às escuras e em pleno inverno (seriam os primeiros a fazer uma inconsciência destas, não?);
  • Porque deram ouvidos a um tipo ainda mais inconsciente que eles, que achou divertido colocar os seus colegas (e amigos, acredito!) naquelas circunstâncias e, voluntariamente, lhe obedeceram;
  • Por mil e um motivos que até agora não podemos sequer imaginar.
Mas, de uma coisa eu tenho a certeza (porque a Polícia o confirma): os seis jovens não foram assassinados, ou seja, ninguém os agarrou pelo colarinho e os enfiou debaixo de água contra a sua vontade. E sim, já sei o que muitos dirão, que a "pressão de grupo", que a "exclusão dos que se negam a ser praxados", que a "idiotice que é a praxe que põe as pessoas nestas circunstâncias", etc etc. Esqueçam. A Praxe é, tal como taaaaantos outros "ambientes", voluntária. E, sim, nesse ambiente há bullying, em alguns sítios, tal como o há na escola, na equipa de futebol (ou outro desporto), nas forças armadas, em casa. Porque há pessoas na Praxe. E às vezes as pessoas conseguem ser muito, MUITO estúpidas. Mas não é por isso que se lhes deve oferecer um bode expiatório e atirar as culpas para cima da Praxe.