O cacto que tenho na minha “secretária” do laboratório, pouco a pouco e de forma quase tímida, foi-se girando e crescendo em direcção ao lado onde lhe dá o sol. No princípio era uma coisita pequena e com mais folhas do que caule, mas pouco a pouco foi ganhando altura e hoje, do alto dos seus sete ou oito centímetros, olha o sol de folhas verdes bem crescidas e esticadinhas para receber nem que seja só um raiozinho de luz. As que estão um pouco mais abaixo e que, por isso, vêem menos o sol, vão ficando mais escuras, mais murchas, mais secas, até que naturalmente se soltam do caule e regressam à terra. Todo um ciclo de vida naqueles poucos centímetros de altura, num pequeno vaso que já pede reforma e num pouco de terra que já pede por mais.
Tenho pensado nisto, no meu cacto e na maneira como se girou para o sol, talvez por sentir que me faz falta girar-me para o “sol”. Também para o sol-estrela porque aqui em Santiago ele não abunda e a vitamina D faz muita falta ao corpo, mas principalmente para o sol que são as coisas boas, as boas notícias, os dias felizes, os acontecimentos alegres. Às vezes acho que devia ser mais realista e aceitar mais, conformar-me mais, sonhar menos e assim viver mais “preparada”. Mas depois olho para o meu cacto e para a forma como ele se gira para o sol para crescer e percebo que ser optimista é a minha única maneira de viver. Acreditar na realização dos meus sonhos mesmo quando encontro alguma pedra no caminho, é a minha forma particular de procurar o “sol”. Cairei muitas vezes do alto das minhas quimeras, talvez caia todos os dias um bocadinho, mas continuo a preferir viver lá em cima, olhos postos no sol.