Fomos Nova Iorque, 11 de Setembro, estarrecidos.
Fomos Madrid, 11 de Março, confusos e surpreendidos.
Fomos Londres, Oslo, Boston, Paris, Ancara e Bruxelas.
Fomos Charlie porque nos tocava,
Aylan porque nos chocava.
Mas esquecemos.
Todos os dias nos esquecemos de ser paz, abraço, abrigo, amor.
Combatemos a guerra de armas nas mãos,
sem nos darmos conta que a estamos a alimentar.
Combatemos o medo de insultos na boca,
sem nos darmos conta que o estamos a semear.
Há tanto ruído que já não ouvimos,
já não nos escutamos.
Quando é que falar se fez mais importante do que ouvir?
Quando é que fugir, esconder, proteger,
se tornaram mais importantes do que estar, olhar, arriscar, SENTIR?
Fomos tudo sem ser nada.
Fomos tudo o que o mundo quis ouvir,
nada do que um dia,
ao olhar para trás,
gostaríamos de ter sido.
Porque no meio do barulho,
das vozes,
dos insultos,
das armas,
do medo,
no meio do medo tem que poder continuar a florescer o amor.
No meio de nós,
no meio do nosso medo de sucumbir,
têm de persistir uns braços abertos,
entregues,
confiantes,
ousados,
diferentes.
Se continuarmos a virar nas mesmas esquinas,
nunca mudaremos o nosso destino.
[12.4.2016]