Vivemos a correr, embrenhados nos nossos problemas, nas nossas lutas diárias, ou até na preguiçosa e enfadonha rotina de quem vê nascer e pôr-se o sol sem que nada de novo aconteça. Às vezes vivemos momentos que são como efémeros raios de luz, manifestações espontâneas da beleza do mundo, viagens, celebrações, conquistas, abraços apertados que nos aconchegam na certeza de que há sempre algo de bom para recordar. Vivemos sem tempo para nada, e sobretudo sem tempo para pensar que controlamos muito pouco do que acontece à nossa volta e até connosco. Deixamos para amanhã tudo o que não nos apetece fazer hoje, porque amanhã é outro dia. Trabalhamos mais horas do que devíamos porque tudo é urgente e nada pode ficar para trás, ou para amanhã. Pensamos ao longe naquele reencontro prometido, naquele abraço que ficou por dar, naquelas vezes em que não esperámos pela resposta ao habitual "tudo bem?". Vivemos como se fosse para sempre, às vezes com medo de que não seja, mas sempre a acreditar que há-de haver tempo.
E às vezes de repente a vida vem e dá-nos uma chapadona daquelas mesmo bem assentes, deixa-nos sem palavras e recorda-nos que é ela quem manda. No tempo e em (todos) nós.