12 de outubro de 2013

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Ficou-me na retina um olhar, no ouvido uma frase: «Acreditas realmente que um dia, no teu leito de morte, vais pensar "Ah, óptimo, ninguém soube que eu era amável!"?»

Porquê envergonhar-nos de ser bons? Porquê o esforço de deixar uma imagem distante, fria, insensível até? Porque não dar-nos completamente, ainda que doa, ainda que custe, ainda que seja difícil? Afinal, como também ouvi hoje, "a vergonha é um sentimento desperdiçado". No fim, ninguém vai saber os nossos segredos, por isso, para quê guardar para nós mesmos o que é bom?

Porque tudo acaba. Às vezes cedo demais. E, aí, como mediremos as nossas vidas? "Em dias, em pores-do-sol? Em noites, em cafés? Em polegadas, em milhas? Em risos, em conflitos?"

"Que tal em AMOR?"


(de vez em quando, vale a pena pensar nisto. porque há sempre algo maior, mais importante do que as minhoquices do dia-a-dia.)

17 de setembro de 2013

17 x 3

Desde aquele ano, salta-me o coração quando o telefone toca a horas inesperadas e quando tenho mais de três chamadas perdidas da mesma pessoa. Desde aquele ano, o dia 17 de Setembro nunca mais foi o mesmo. E não gosto. Não gosto de recordar um dia aleatório só porque é o dia em que deixei de poder ouvir-te dizer "a minha Sarinha". Prefiro lembrar-me do 18 de Janeiro e do 10 de Setembro e não conjugar os verbos no passado para falar de ti. Mas já passaram 3 anos e não consigo escrever "17 de Setembro de 2013" sem ter de fazer um esforço por relembrar a tua voz. 

Contar-te-ia tantas histórias e alegrias, sei que te orgulharias tanto de mim... Mesmo quando não sou capaz, porque para ti eu era sempre "a maior". Espero que possas ver-nos aos 5, a tua segunda geração, e vejas como estamos a crescer (eu menos, que já tenho pouco para crescer...). Espero que te orgulhes de nós. Fazes-me falta, avô.

28 de agosto de 2013

Palavras.

Não gosto de sentir que ando à procura das palavras. Não gosto de ter que as escolher, uma por uma, como setas de um arco invisível, que uma vez atiradas nunca poderão voltar à origem. Prefiro que as palavras me inundem, que se atropelem por sair dos meus lábios, dos meus dedos, daquilo a que gosto de chamar alma. Prefiro que as palavras cheguem a mim como gotas de chuva num pedaço de terra árida, ideais, adequadas, acertadas, perfeitas. Mas o problema é que, muitas vezes, quando assim chegam, as palavras vêm misturadas, as necessárias com as excessivas, as acertadas com as inoportunas. E, de repente, a dúvida: disse o que devia? Fui útil?

Mais de uma vez, nestas semanas que se antecipavam de descanso e relaxamento, tive de escolher palavras, pensar e repensar o que dizer, pensar na sua utilidade, na sua acção, na reacção de quem as iria receber, no que poderia fazer delas. Tive de pensar se eram as adequadas, mas também tive de me convencer que, por vezes, dizê-las era tudo o que podia fazer. Por mim e pelos outros. Para que nada fique por dizer, para que de nada me possa arrepender, para sentir que, pelo menos, estiquei a mão, ofereci uma palavra, fiz qualquer coisa. Ainda que de nada sirva, ainda que as palavras não tranquilizem ânimos, não traduzam motivações, não respondam a porquês, não tragam de volta quem desapareceu de repente. Ainda que as palavras que escolhi de nada sirvam, contê-las era algo que não conseguiria ter feito.

Porque, ainda assim, as palavras continuam a inundar-me. Por vezes desorganizadas, a pedir que as coloque de alguma maneira minimamente lógica. Por vezes em forma de canções que escuto, de textos que leio, de formas de organizar as palavras que outros descobriram, muito, muito melhor do que eu. Mas enquanto continuarem a chegar como chuvas torrenciais, como nós na garganta, como sensações de dever, como tradução de sentimentos tão maiores do que eu, melhor ou pior, continuarei a escolher as palavras com que vos direi que estou a tentar. Sem desistir. Caindo mil vezes, levantando-me mil e uma.

"Don't hang your head in sorrow
Don't give up just before you win
Don't wait around for tomorrow"