23 de setembro de 2014

Esquecimento.

Passaram quatro anos e, pela primeira vez, esqueci-me. Passou o dia 17 de Setembro e só hoje me lembrei que passou. Foi um dia como os outros, não me lembrei de nada de especial, não houve nenhum momento de "iluminação" repentina, nada. Só hoje me lembrei. Pela primeira vez em quatro anos, esqueci-me do significado que o dia 17 de Setembro passou a ter a partir de 2010. E foi estranho.

De repente, fiquei chocada com o meu próprio esquecimento. Chocada por não me ter lembrado, chocada por terem passado 6 dias sem que me viesse à ideia, chocada por nada nem ninguém à minha volta mo ter recordado. Fiquei assustada de repente, como se a memória me estivesse a trair, como se a rotina me estivesse a fazer esquecer do que é importante, como se me estivesse a esquecer da pessoa e não da data.

E depois percebi que era tudo uma grande parvoíce. Ainda bem que me estou a esquecer. Ainda bem que o dia 17 de Setembro começa a passar despercebido. Ainda bem que o dia em que (nos) morreste não te traz à minha memória, porque é sempre uma lembrança triste. Continuarei sempre a preferir o 18 de Janeiro, Avô. Esse será sempre o teu dia, o da tua vida. Só esse e mais nenhum.

18 de setembro de 2014

Em branco.

Passaram dois meses sem palavras, sem maneira nem vontade de dizer o que por dentro é tanto. Não sei se é apenas por estar cansada de outras palavras, mais formais e profissionais, mas hoje tive pena d'O Abrigo, aqui tão abandonado. E teria tanto para dizer destes últimos meses. Tantas alegrias e tantas dores, tantos sorrisos e tantos palavrões guardados cá dentro, tanto cimo-de-montanha e tanto fundo-de-poço. Tanta montanha russa, meu Deus. Mas já não faz sentido, não agora. Talvez, um dia, voltem as palavras. Quem sabe...

16 de julho de 2014

Cacto-Girassol

O cacto que tenho na minha “secretária” do laboratório, pouco a pouco e de forma quase tímida, foi-se girando e crescendo em direcção ao lado onde lhe dá o sol. No princípio era uma coisita pequena e com mais folhas do que caule, mas pouco a pouco foi ganhando altura e hoje, do alto dos seus sete ou oito centímetros, olha o sol de folhas verdes bem crescidas e esticadinhas para receber nem que seja só um raiozinho de luz. As que estão um pouco mais abaixo e que, por isso, vêem menos o sol, vão ficando mais escuras, mais murchas, mais secas, até que naturalmente se soltam do caule e regressam à terra. Todo um ciclo de vida naqueles poucos centímetros de altura, num pequeno vaso que já pede reforma e num pouco de terra que já pede por mais.

Tenho pensado nisto, no meu cacto e na maneira como se girou para o sol, talvez por sentir que me faz falta girar-me para o “sol”. Também para o sol-estrela porque aqui em Santiago ele não abunda e a vitamina D faz muita falta ao corpo, mas principalmente para o sol que são as coisas boas, as boas notícias, os dias felizes, os acontecimentos alegres. Às vezes acho que devia ser mais realista e aceitar mais, conformar-me mais, sonhar menos e assim viver mais “preparada”. Mas depois olho para o meu cacto e para a forma como ele se gira para o sol para crescer e percebo que ser optimista é a minha única maneira de viver. Acreditar na realização dos meus sonhos mesmo quando encontro alguma pedra no caminho, é a minha forma particular de procurar o “sol”. Cairei muitas vezes do alto das minhas quimeras, talvez caia todos os dias um bocadinho, mas continuo a preferir viver lá em cima, olhos postos no sol.