4 de março de 2016

Crónica de uma vitória (não) anunciada.

Sempre fui uma miúda gordita. Às vezes gorda, às vezes gorduchinha, às vezes (cuidadosamente) "forte" (para evitar possíveis constrangimentos). Nasci gordinha, aprendi mais tarde que aos bebés como eu nos chamam "macrossómicos" (coisa fina, isto de ter categoria especial logo à nascença!). Cresci gordinha e o cuidado dos meus pais, guiados pela sábia mão de uma grande nutricionista, corrigiu o problema hoje tão em voga - a obesidade infantil. Não me lembro de fazer dieta quando era pequena, mas de todas as histórias que já me contaram, acabo por ter imagens desse tempo na minha cabeça. Também por isso, não me lembro se foi um sacrifício muito grande ou não, não recordo sofrer com esse assunto - e isso é a melhor parte. No entanto, recordo ter lutado com o meu peso durante todos estes quase 29 anos. Às vezes pela mão dos meus pais e da nutricionista, às vezes confrontada com o "corpo inadequado" para a ginástica rítmica (desporto que ainda hoje adoro e admiro, quase 15 anos depois de ter deixado de o praticar), às vezes consciente dos perigos da obesidade, às vezes conformada com o meu "ser gordinha" e de cabeça erguida porque "sou como sou e não como me vêem". Fazia desporto, era saudável, não comia muitas "porcarias" - comia muito. Muito de tudo, muito das coisas que mais gostava, muito de todos os nutrientes, muita comidinha mesmo.

Então fui para a Faculdade e o ponteiro da balança deu um salto de 10 kg. Tinha deixado de fazer desporto, de ter horários, de almoçar e jantar em casa todos os dias. Tinha começado a viver a vida académica ao máximo e isso implicava nem sempre ter tempo para jantar entre as aulas e a reunião da AE ou o ensaio das Sirigaitas e por isso comer qualquer coisa no bar mais próximo. Jantaradas, reuniões de amigos, ensaios, festivais, zero cuidados e muita "boa vida". Só consegui recuperar (pouco) no último ano, com os horários do estágio que me permitiam voltar ao ginásio regularmente. Pelo meio tentei fazer desporto, tentei a ajuda de outra excelente nutricionista, mas o problema não eram as ajudas, o problema era eu e a minha pouca força de vontade. E este problema continuou a agravar-se em Londres e em Santiago, com tentativas falhadas de perder peso, com compromissos (muito) irregulares com o ginásio, com a vida social que sentia que estava a perder de cada vez que me comprometia a cuidar do meu peso. Enfim, a mesma luta de sempre. E a mesma desculpa de sempre - a minha vida não me permite fazer dieta, enquanto não acabar esta tese não vou conseguir perder peso.

Em Agosto de 2015 decidi (confesso que com pouca fé em mim mesma) tentar outra vez. Com a ajuda de outra grande nutricionista, com um enorme desafio pela frente, com vontade mas com medo de falhar, outra vez. Não foi por saúde, talvez nem por estética, foi mesmo por prevenção. Pensei que a recta final do doutoramento era a pior época possível para começar uma dieta, mas enganei-me. Uma vez mais, o problema era apenas a minha determinação. E essa, felizmente, desta vez não me faltou. Comecei a pôr em prática o plano alimentar e veio logo uma série de "asneiras": uma visita de um grande amigo a Santiago, um fim-de-semana em Madrid, outro nas Astúrias, outra visita em Santiago, enfim... Mas durante a semana era rigorosa. Voltei ao ginásio comprometida com as (fantásticas) aulas de jump e fui andando, tentando, persistindo. Afinal, não era assim tão difícil, não custava assim tanto, não me sentia nada culpada quando "deslizava" e por isso não o fazia assim tantas vezes.

Ontem (excepcionalmente, porque prefiro fazê-lo apenas quando vou à consulta), subi a uma balança. Era daquelas antigas, analógicas, talvez por isso me senti mais confiante - parece que a probabilidade de erro é menor nesse tipo de balança. O ponteiro marcou um valor que era o mais baixo que recordo nos últimos 10 anos. Em 6 meses, livrei-me de aproximadamente 14 kg (quase 3 garrafões de 5L de água, como diz a Dra. Luciana!) e sinto-me óptima. Este caminho ainda não acabou e a luta em si creio que durará toda a vida, mas pela primeira vez em muito tempo, vou eu à frente. E confio que vou ganhar.

29 de fevereiro de 2016

"Una luz distinta"

Quería hablarte de todo lo que fui antes de ti,
de los días grises sin fe
y de las mañanas verdes de esperanza.
Quería decirte que intento ser yo en cada instante,
pero la vida cambia y nosotros con ella.
Y por eso a veces no sé bien quien soy,
quien fui antes de ti o quien quiero ser ahora.

Quería contarte mis conquistas,
llorarte mis derrotas,
narrarte mi historia poco a poco, sin prisas.
Quería llevarte a mis memorias,
pasear contigo por mis recuerdos,
mostrarte el camino que he recorrido sin ti,
antes de ti, esperando por ti, buscándote a ti.

Pero en el fondo de tus ojos color tierra, profundos,
veo como buscas en lo más fondo de mi
los detalles de quien soy ahora, contigo.
Y en tu mirada intensa olvido el pasado,
me desintereso de explicarte quien fui,
pierdo el miedo de no encontrarme
y empiezo a reescribirme, hoy.

Porque nunca nadie me había mirado así,
con tanto futuro en los ojos.

[07.11.15]


Parabéns, a ti que és uma luz distinta. Que vieste mudar o meu guião, que vieste mudar-me e iluminar-me um pouco mais os dias. Parabéns! :)

19 de janeiro de 2016

Os Nomes.

Quero ensinar-te os nomes das coisas,
virar tudo do avesso e inventar palavras,
só nossas.
Palavras que sussurremos às escondidas como segredos,
que servem apenas para desvendar outros maiores,
os do mundo.

Quero ensinar-te os nomes das pessoas,
mostrar-te que todas elas valem por si próprias,
únicas e sós.
Sós até que alguém como tu as encontre
e lhes peça para aprender novas palavras,
só vossas.

Quero ensinar-te o nome do mundo,
imenso e distinto em todo o seu esplendor,
completo.
Para que te lembres sempre que as palavras são armas
e que tudo tem o seu nome, mesmo que seja inventado,
mas nosso.

Quero ensinar-te que os nomes são dignidade.
Quero ensinar-te a amar cada nome, cada coisa, cada pessoa.

[05.05.15]