"E então o Tomás fechou os olhos por um segundo. O mundo à sua volta girava demasiado depressa para ele o conseguir acompanhar e precisava de parar. Parar e tirar aquele peso enorme de cima dos ombros. E então o Tomás chorou. Como uma criancinha a quem se tira um doce, talvez como nunca tinha chorado, porque nunca fora pessoa de exprimir emoções. Talvez por isso mesmo o estivesse a fazer agora, porque nunca o fizera antes, porque acumulara tudo o que o ia fazendo sofrer na sua alma que parecia encolher a cada dia que passava…
Naquela tarde de Outono, sozinho na praia, o Tomás chorou durante um tempo infindável. Chorou tudo o que ao longo de todos estes anos o magoara, tudo o que reprimira e que agora tinha de libertar, sob pena do seu coração, cada vez mais pequenino, explodir de vez! Não aguentava mais… E, incrivelmente, não havia nada que tivesse conduzido àquele momento, nenhuma gota de água a fazer transbordar o copo da alma… Muitos tinham sido os momentos em que engolira em seco e erguera os olhos, com a “força” que todos diziam que possuía, mas que só ele sabia praticamente não existir. Porque por detrás daquela máscara, escondia-se um Tomás muito mais fraco, que a cada dia era destruído um pouquinho por dentro, por um mundo que parecia não o compreender… Por aquelas coisas que, como as pessoas dizem, “não matam mas moem” e moem mesmo, vão corrompendo por dentro, sem que se possa fazer nada por isso. Apenas engolir em seco e erguer os olhos, sorrindo, como sempre fazia o Tomás."
['Desculpa, porque me preocupo contigo' - Eu]