«A principio é simples, anda-se sozinho,
Passa-se nas ruas bem devagarinho,
está-se bem no silêncio e no burburinho,
bebe-se as certezas num copo de vinho...
E vem-nos à memória uma frase batida...
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo,
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo,
diz-se do passado que está moribundo,
bebe-se o alento num copo sem fundo...
E vem-nos à memória uma frase batida...
E é então que amigos nos oferecem leito,
entra-se cansado e sai-se refeito,
luta-se por tudo o que se leva a peito,
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito!
E vem-nos à memória uma frase batida...
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja,
olha-se para dentro e já pouco sobeja,
pede-se o descanso, por curto que seja,
apagam-se dúvidas num mar de cerveja...
E vem-nos à memória uma frase batida...
Enfim duma escolha faz-se um desafio,
enfrenta-se a vida de fio a pavio,
navega-se sem mar, sem vela ou navio,
bebe-se a coragem até dum copo vazio...
E vem-nos à memória uma frase batida...
E entretanto o tempo fez cinza da brasa,
e outra maré cheia virá da maré vaza,
nasce um novo dia e no braço outra asa,
brinda-se aos amores com o vinho da casa...
E vem-nos à memória uma frase batida...
HOJE É O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA [MINHA] VIDA!»
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