31 de dezembro de 2014

Em frente.

Não podia deixar que n'O Abrigo o ano fechasse com um texto de tristeza. Na verdade não podia permitir que o último post deste espaço neste ano reflectisse um estado de alma que, apesar de ter estado bastante presente ao longo dos últimos meses, não é de forma alguma o que quero recordar de 2014. Nove anos depois, O Abrigo continua a ser um espaço de desabafo nem sempre muito regular, continua a ser um refúgio onde regressar, continua a ser o espaço, por excelência, onde digo o que me apetece sobre o que me vai na cabeça e no coração. Talvez por isso O Abrigo é, em 2014 como em 2005, um portefólio de emoções, as quais ultimamente não têm sido particularmente felizes. No entanto, hoje é dia de fazer balanços, de recordar os melhores e também os piores momentos deste ano, de aprender com eles e de tirar as lições necessárias, de rever prioridades e recordar promessas feitas há 364 dias atrás, de acreditar fielmente num amanhã melhor. Hoje é o dia por excelência da fé no futuro desconhecido. Hoje pedimos um ano melhor que este, pedimos menos preocupações e mais alegrias, menos dores e mais celebrações, menos tristezas e mais felicidade.

Hoje eu peço apenas, de olhos bem abertos para o futuro e com muita confiança em dias melhores, serenidade. Que os desafios do próximo ano não me vençam, que as dificuldades não me prendam completamente, que as mãos amigas não me faltem. Melhores dias virão, certamente. :)



Dou voltas e voltas
e na volta já não sei de onde parti.
Não sei onde quero ir, mas vou.
Levam-me passos que já não são meus,
mãos que me vendam os olhos e me empurram,
em frente... Cegamente, em frente.

Até quando? Até quando assim?
Persisto rumo à meta imaginada.
Não sei onde fica ou como é.
Sonho a liberdade de lá chegar, onde for
e pergunto-me se a reconhecerei, ali mesmo,
em frente... Finalmente, em frente.

É eterna a viagem,
ainda que soem perdidos os passos.
Não sei se há tempo para olhar para trás.
Caminho sobre o fio da navalha, a medo,
mas se vejo a rede de braços à minha espera...
Em frente... Para sempre, em frente.

[27.10.14]

28 de novembro de 2014

Castelos de cartas

Hoje estou triste.

Tenho andado aqui às voltas a pensar em como chamar exactamente a este sentimento. Não estou surpreendida, não estou desiludida, não estou zangada, não estou sequer revoltada (que é um sentimento bem mais comum em mim pelo mesmo motivo). Não. Hoje estou triste. Profundamente magoada por palavras falsas de quem nada sabe sobre mim. Não sou nem nunca serei perfeita e cometo muitos erros, todos os dias. Mas hoje estou triste porque fui erroneamente avaliada (e quem sabe se efectivamente prejudicada) por números e palavras que nascem de "certezas intelectuais" (como diria a minha mãe) de quem, da vida real de todos os dias, nada sabe. Como é fácil atirar culpas, encontrar bodes expiatórios entre os degraus mais baixos da "cadeia alimentar". Como é fácil criticar. Como é fácil avaliar. Como é fácil destruir. Tudo o que levamos anos para construir pode ser desfeito num instante. Uma auto-estima, por exemplo! Uma noção de confiança em nós mesmos, uma esperança num amanhã mais justo. Convenço-me que sou mais forte e que não me deixarei vencer mas não é fácil. Convenço-me que não sou quem me pintam.

Mas hoje estou triste.

21 de novembro de 2014

Persiste. Até quando?

Já levei tantas chapadas que pensei que já não ia doer. Já fui tantas vezes atirada ao chão que achei que tinha de deixar de doer em algum momento. E continuo a perguntar "para quê". Se a vida me dá tantos sinais, porque insisto em achar que eu é que tenho razão, que o meu projecto é que está certo, que o caminho por onde quero ir é o meu? Se erguer a cabeça, levantar-me do chão e recomeçar se torna cada dia mais difícil, porque é que insisto? Porque é que hei-de ter eu razão?

Não somos os mesmos no fim de uma guerra e sobretudo quando de todas as batalhas saímos derrotados. Mudamos. Tornamo-nos, muitas vezes, pessoas que não gostamos de ser. E talvez seja mais corajoso desistir de perder e conformarmo-nos com um caminho que, não sendo o que sonhámos, talvez seja o que temos de aceitar. Porque nem tudo vale a pena, mesmo quando a alma não é pequena.