31 de dezembro de 2014

Em frente.

Não podia deixar que n'O Abrigo o ano fechasse com um texto de tristeza. Na verdade não podia permitir que o último post deste espaço neste ano reflectisse um estado de alma que, apesar de ter estado bastante presente ao longo dos últimos meses, não é de forma alguma o que quero recordar de 2014. Nove anos depois, O Abrigo continua a ser um espaço de desabafo nem sempre muito regular, continua a ser um refúgio onde regressar, continua a ser o espaço, por excelência, onde digo o que me apetece sobre o que me vai na cabeça e no coração. Talvez por isso O Abrigo é, em 2014 como em 2005, um portefólio de emoções, as quais ultimamente não têm sido particularmente felizes. No entanto, hoje é dia de fazer balanços, de recordar os melhores e também os piores momentos deste ano, de aprender com eles e de tirar as lições necessárias, de rever prioridades e recordar promessas feitas há 364 dias atrás, de acreditar fielmente num amanhã melhor. Hoje é o dia por excelência da fé no futuro desconhecido. Hoje pedimos um ano melhor que este, pedimos menos preocupações e mais alegrias, menos dores e mais celebrações, menos tristezas e mais felicidade.

Hoje eu peço apenas, de olhos bem abertos para o futuro e com muita confiança em dias melhores, serenidade. Que os desafios do próximo ano não me vençam, que as dificuldades não me prendam completamente, que as mãos amigas não me faltem. Melhores dias virão, certamente. :)



Dou voltas e voltas
e na volta já não sei de onde parti.
Não sei onde quero ir, mas vou.
Levam-me passos que já não são meus,
mãos que me vendam os olhos e me empurram,
em frente... Cegamente, em frente.

Até quando? Até quando assim?
Persisto rumo à meta imaginada.
Não sei onde fica ou como é.
Sonho a liberdade de lá chegar, onde for
e pergunto-me se a reconhecerei, ali mesmo,
em frente... Finalmente, em frente.

É eterna a viagem,
ainda que soem perdidos os passos.
Não sei se há tempo para olhar para trás.
Caminho sobre o fio da navalha, a medo,
mas se vejo a rede de braços à minha espera...
Em frente... Para sempre, em frente.

[27.10.14]

28 de novembro de 2014

Castelos de cartas

Hoje estou triste.

Tenho andado aqui às voltas a pensar em como chamar exactamente a este sentimento. Não estou surpreendida, não estou desiludida, não estou zangada, não estou sequer revoltada (que é um sentimento bem mais comum em mim pelo mesmo motivo). Não. Hoje estou triste. Profundamente magoada por palavras falsas de quem nada sabe sobre mim. Não sou nem nunca serei perfeita e cometo muitos erros, todos os dias. Mas hoje estou triste porque fui erroneamente avaliada (e quem sabe se efectivamente prejudicada) por números e palavras que nascem de "certezas intelectuais" (como diria a minha mãe) de quem, da vida real de todos os dias, nada sabe. Como é fácil atirar culpas, encontrar bodes expiatórios entre os degraus mais baixos da "cadeia alimentar". Como é fácil criticar. Como é fácil avaliar. Como é fácil destruir. Tudo o que levamos anos para construir pode ser desfeito num instante. Uma auto-estima, por exemplo! Uma noção de confiança em nós mesmos, uma esperança num amanhã mais justo. Convenço-me que sou mais forte e que não me deixarei vencer mas não é fácil. Convenço-me que não sou quem me pintam.

Mas hoje estou triste.

21 de novembro de 2014

Persiste. Até quando?

Já levei tantas chapadas que pensei que já não ia doer. Já fui tantas vezes atirada ao chão que achei que tinha de deixar de doer em algum momento. E continuo a perguntar "para quê". Se a vida me dá tantos sinais, porque insisto em achar que eu é que tenho razão, que o meu projecto é que está certo, que o caminho por onde quero ir é o meu? Se erguer a cabeça, levantar-me do chão e recomeçar se torna cada dia mais difícil, porque é que insisto? Porque é que hei-de ter eu razão?

Não somos os mesmos no fim de uma guerra e sobretudo quando de todas as batalhas saímos derrotados. Mudamos. Tornamo-nos, muitas vezes, pessoas que não gostamos de ser. E talvez seja mais corajoso desistir de perder e conformarmo-nos com um caminho que, não sendo o que sonhámos, talvez seja o que temos de aceitar. Porque nem tudo vale a pena, mesmo quando a alma não é pequena.

9 de novembro de 2014

Luz nueva.

Me sorprendió la luz de la mañana.
Llenó los espacios y ocupó las ideas,
consumió los tiempos inútiles y vacíos,
inundó de calor lo que era triste.

Era nueva para mí esta luz.
No porque viviera antes en la oscuridad,
sino porque era nuevo su brillo,
nueva su intensidad, nueva su magia.

Me sorprendió la luz de la mañana.
Y era sencilla, pura, espontánea,
iluminando espacios nuevos,
abriendo puertas hace mucho cerradas.

Por momentos creí que desaparecería,
que sería solamente otro engaño del alma
y que se iría, sorprendentemente, como había llegado.
Pero, una vez más,

me sorprendió la luz de la mañana
y se quedó. Descubriéndonos.


[7.11.14]

31 de outubro de 2014

Há tempo.

No teu jardim
a vida avança mais lenta,
com mais tempo para olhar
e ver. Sem pressa.
As árvores que envelhecem,
as folhas que caem,
a erva que não se cansa de ser verde
e de, verde, alegrar o teu jardim.

Aqui os ramos altos rasgam o céu
e tudo é verde sobre azul, sem pressa.
O caminhar é tranquilo,
ao som das folhas que estalam, secas, sob os meus pés.
No teu jardim há tempo
e o tempo é o seu maior tesouro.
Como se crescesse nas árvores,
como se fosse meu para colher.

Cheira a paz neste lugar,
será difícil guardá-la assim?
Sem mais, sem complicar o que ela é,
sem a fazer utopia lá distante, inalcançável.
Respiro fundo porque há tempo,
fecho os olhos porque há tempo,
adormeço porque há tempo
no teu jardim.

[26.10.14]

29 de outubro de 2014

Transparente (II)

Leo tus ojos como páginas abiertas
de un libro que vas escribiendo a diario.
Son mil y una batallas, luchas desiguales,
conquistas dulces, caídas sin gloria,
mil y una aventuras entrelazadas en ti.

Transparente como água cristalina,
frágil en cada paso del camino,
abres mil ventanas a cada puerta cerrada
y encuentras en ti la fuerza del viento,
que siempre descubre por donde seguir.

Somos palabras sueltas, volando por ahí,
peleando por aterrizar en cualquier lugar
donde nos esperen de brazos abiertos, sin prisa.
Me faltas en la convocatoria de hoy,
te encuentro donde siempre has estado

porque sólo lo que empieza sin motivo
puede ser eterno, permanente, transparente.

[29.10.14]

23 de setembro de 2014

Esquecimento.

Passaram quatro anos e, pela primeira vez, esqueci-me. Passou o dia 17 de Setembro e só hoje me lembrei que passou. Foi um dia como os outros, não me lembrei de nada de especial, não houve nenhum momento de "iluminação" repentina, nada. Só hoje me lembrei. Pela primeira vez em quatro anos, esqueci-me do significado que o dia 17 de Setembro passou a ter a partir de 2010. E foi estranho.

De repente, fiquei chocada com o meu próprio esquecimento. Chocada por não me ter lembrado, chocada por terem passado 6 dias sem que me viesse à ideia, chocada por nada nem ninguém à minha volta mo ter recordado. Fiquei assustada de repente, como se a memória me estivesse a trair, como se a rotina me estivesse a fazer esquecer do que é importante, como se me estivesse a esquecer da pessoa e não da data.

E depois percebi que era tudo uma grande parvoíce. Ainda bem que me estou a esquecer. Ainda bem que o dia 17 de Setembro começa a passar despercebido. Ainda bem que o dia em que (nos) morreste não te traz à minha memória, porque é sempre uma lembrança triste. Continuarei sempre a preferir o 18 de Janeiro, Avô. Esse será sempre o teu dia, o da tua vida. Só esse e mais nenhum.

18 de setembro de 2014

Em branco.

Passaram dois meses sem palavras, sem maneira nem vontade de dizer o que por dentro é tanto. Não sei se é apenas por estar cansada de outras palavras, mais formais e profissionais, mas hoje tive pena d'O Abrigo, aqui tão abandonado. E teria tanto para dizer destes últimos meses. Tantas alegrias e tantas dores, tantos sorrisos e tantos palavrões guardados cá dentro, tanto cimo-de-montanha e tanto fundo-de-poço. Tanta montanha russa, meu Deus. Mas já não faz sentido, não agora. Talvez, um dia, voltem as palavras. Quem sabe...

16 de julho de 2014

Cacto-Girassol

O cacto que tenho na minha “secretária” do laboratório, pouco a pouco e de forma quase tímida, foi-se girando e crescendo em direcção ao lado onde lhe dá o sol. No princípio era uma coisita pequena e com mais folhas do que caule, mas pouco a pouco foi ganhando altura e hoje, do alto dos seus sete ou oito centímetros, olha o sol de folhas verdes bem crescidas e esticadinhas para receber nem que seja só um raiozinho de luz. As que estão um pouco mais abaixo e que, por isso, vêem menos o sol, vão ficando mais escuras, mais murchas, mais secas, até que naturalmente se soltam do caule e regressam à terra. Todo um ciclo de vida naqueles poucos centímetros de altura, num pequeno vaso que já pede reforma e num pouco de terra que já pede por mais.

Tenho pensado nisto, no meu cacto e na maneira como se girou para o sol, talvez por sentir que me faz falta girar-me para o “sol”. Também para o sol-estrela porque aqui em Santiago ele não abunda e a vitamina D faz muita falta ao corpo, mas principalmente para o sol que são as coisas boas, as boas notícias, os dias felizes, os acontecimentos alegres. Às vezes acho que devia ser mais realista e aceitar mais, conformar-me mais, sonhar menos e assim viver mais “preparada”. Mas depois olho para o meu cacto e para a forma como ele se gira para o sol para crescer e percebo que ser optimista é a minha única maneira de viver. Acreditar na realização dos meus sonhos mesmo quando encontro alguma pedra no caminho, é a minha forma particular de procurar o “sol”. Cairei muitas vezes do alto das minhas quimeras, talvez caia todos os dias um bocadinho, mas continuo a preferir viver lá em cima, olhos postos no sol.

1 de julho de 2014

Unbowed

"Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.


In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find me unafraid.


It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:

I am the captain of my soul."

William Ernest Henley (1875)

24 de junho de 2014

Inês da minha alma

Não me lembro exactamente de o dia de São João não ser, também, o dia da Inês. Deve ser normal, afinal de contas são 21 anos a acordar a 24 de Junho com o mesmo pensamento: hoje a Inês faz anos! :) E a Inês, por ser quem é, há muito que merecia o seu espaço aqui no abrigo...

A Inês vivia perto de mim antes de eu a conhecer, a Inês vive dentro de mim desde que a conheço. No princípio, a escola primária, a sala número 2, eu que jogava futebol e a Inês que era princesa. Mas sempre, desde esse dia, com o sorriso que hoje também faz 27 anos. Depois, a comunidade que era o segundo andar do nº27, porque mais valia nem haver portas, porque as casas eram das duas (das quatro!) em brincadeiras infindáveis e histórias intermináveis. E juntas continuávamos a crescer, entre portas abertas e abraços fechados. Olhando para trás, sei que esta amizade passou provavelmente por tudo o que uma relação assim tem de passar: zangámo-nos, discutimos, chorámos, rimos, viajámos, estudámos, sofremos e fomos felizes, juntas. Também estivemos longe, longe porque em cidades diferentes, longe porque em "fases" diferentes, longe porque em prioridades diferentes. Mas sempre, inexplicavelmente, perto. Mesmo que o contacto não fosse tanto ou alguma novidade das nossas vidas ficasse por contar no momento exacto, tudo permanecia igual. E esta estabilidade, esta certeza de alguém que passou por tanto ao teu lado e que vai continuar perto, "mesmo que a vida mude os nossos sentidos", as nossas direcções, os nossos rumos, não tem preço.

Sou feliz quando sei que a Inês é feliz e sei que este sentimento é mútuo. Alegro-me nas suas conquistas, admiro a sua perseverança, reconheço orgulhosa a sua infinita capacidade de trabalho e de entrega pessoal, sorrio contagiada pelo seu sorriso. Desde 1993 até hoje e para sempre.

Para ti, minha Nês, que cabes como poucos no meu abraço e que com tanta história escrita em conjunto me fazes mais feliz, sempre, parabéns! :)


17 de junho de 2014

Caso grave... :)

Quando tenho que escrever um artigo, apetece-me escrever sobre outras coisas, inventadas, apetece-me escrever um livro.

Quando tenho tempo e poderia, realmente, escrever coisas para o que um dia chegasse a ser um livro, apetece-me fazer outras coisas, ou inclusive chega a não me apetecer fazer nada.

Creio que tenho um problema crónico... de procrastinação.

Escrevamos, pois...

(e o blog, pobre, fica sempre no fim da lista...)

11 de junho de 2014

"Looking back over my shoulder..."

Gosto tanto de Maio que não tive tempo para vir aqui dizer quanto. Gosto tanto de Maio que me deixei levar pelos momentos inesquecíveis que uma vez mais escreveram a história do melhor mês do ano e achei que não precisava de palavras registadas, para dizer o quanto gosto de Maio.

Maio é um mês sempre doce, sempre terno, sempre celebrativo, sempre preenchido, sempre profundamente transformador. Este ano não foi excepção...

No rescaldo, olho para trás e volto a ouvir os acordes da Monumental Serenata, a sentir o sal de algumas nostálgicas lágrimas e a força de tantos abraços, dos amigos de sempre (desde o primeiro "DE QUATRO!") aos nossos caloiros, dos afilhados aos finalistas, de D. António Francisco que mais do que Bispo é já amigo ao Padre Bacelar, força e espírito da mais bonita Bênção das Pastas do (meu) mundo. Foi mais um regresso quentinho à casa que o meu coração não sabe nem quer abandonar...

Maio trouxe-me de volta aos braços de muitos amigos, à gargalhada fácil de quem sabe e sente que o tempo não deixa marcas nas amizades de ferro, ao sorriso iluminado de quem, como se o tempo não tivesse passado, celebra cada aniversário como se se contassem os anos pelos dedos de uma mão. Maio trouxe-me a certeza de que por muitos anos que viva jamais poderei recompensar o que cada pessoa do meu mundo tem feito por mim!

Desta vez, Maio trouxe novos inícios, novos desafios, novos compromissos, novas responsabilidades e um novo brilho ao olhar. Trouxe uma nova confiança, um respirar mais fundo, mais livremente, outra vez. Trouxe uma luz ao fundo do túnel e um novo olhar sobre as coisas, porque afinal tudo pode acontecer, se dermos o nosso melhor.

E Maio também me levou, de volta às viagens que tenho impressas na minha essência. Levou-me a descobrir a nova casa de alguém que "fez casa" dentro de mim... e foi bom. Porque é bom sabermo-nos parte da bagagem de quem se vê obrigado a voar para outras paragens, recordar que a distância é o que quisermos que ela seja e que as saudades não se matam, só se suavizam para logo voltarem em força, a lembrar que são elas a prova do que há em nós de melhor.

Com um mês de Maio assim... como não acreditar profundamente que sou feliz? :)

17 de abril de 2014

Messy.

É a Semana Maior e eu sinto que tudo passou a correr. Parto para a celebração destes 3 dias maiores, desta vez num sítio diferente, com pessoas diferentes, de forma diferente e com a sensação de que nesta Quaresma nem tive tempo para parar e encontrar um rumo.

Praticamente todos os dias me pergunto se o que imagino, idealizo e planeio é o que deveria ser. Praticamente todos os dias me pergunto se faço as escolhas certas, se tomo as decisões correctas, se faço tudo o que está ao meu alcance. E não tenho resposta. E sinto que, às vezes, não compreendo nada, sobretudo esta espécie de jogo que a vida me faz jogar.

"Eu sei que a vida tem pressa
que tudo aconteça, sem que a gente peça.
Eu sei que o tempo não pára,
o tempo é coisa rara e a gente só repara
quando ele já passou..."

8 de abril de 2014

This is war.

Sou, sempre fui e acredito que sempre serei uma firme defensora de que as batalhas que temos de enfrentar e os obstáculos que temos de ultrapassar são apenas e só aqueles que estão "à nossa altura", ou seja, aqueles que somos capazes de vencer. Não sei (nem quero saber!) como é viver uma guerra física, com armas e bombas e o medo a dominar tudo e todos.

O que sei é que algumas guerras psicológicas, emocionais, de pressões e opressões, de jogos de poder e de avestruzes que não deixam de enfiar a cabeça na terra são tremendamente esgotantes. Fazem nós na garganta e trazem a raiva para que se acumule, pouco a pouco, nos punhos cerrados, nas testas franzidas, nas palavras caladas à força e nas outras, gritadas às escondidas, quando é seguro fazê-las ouvir. E queremos ser bons e não deixar que nada disto se instale nem que doa, não deixar que nos consuma. Queremos acreditar que amanhã será outro dia, possivelmente melhor. Que eventualmente tudo acabará, com mais ou menos dor, com mais ou menos dificuldade, com mais ou menos cansaço.

A dúvida que permanece é, então, só uma: lutar a qualquer custo, com a fé posta na vitória independentemente das consequências, ou retirar-se sabendo que nada há-de mudar e que as baixas podem ser maiores que as conquistas? Quem dera houvesse um ponto intermédio, uma solução de compromisso, um acordo de paz...

2 de março de 2014

Shall we dance? :)

No início, que não sabemos bem quando foi ou como se deu, não pensei que te ias gravar desta forma, a ferro e fogo, em mim. Estava contente de começar a fazer amigos aqui, mas ainda não sabia que tu te tornarias "A" amiga, estava longe de imaginar que hoje me haveria de doer o peito ao deixar-te ir.

Li hoje esta frase: "Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade." Obrigada por acreditares em mim e me ajudares também a acreditar, por me mostrares a verdade das minhas limitações e me ofereceres a tua amizade genuína e desinteressada, apesar dessas limitações. Obrigada por me teres ajudado a ser melhor pessoa, mesmo que nem sempre o consiga demonstrar, mesmo que continue a falhar, muito.

Não sei se alguma vez encontrarei outra amiga como tu mas, para dizer a verdade, não preciso que isso aconteça. Porque apesar do nó na garganta que hoje me aperta, apesar da água que transborda do meu olhar, apesar de tudo o que me lembra, constantemente, que amanhã já estaremos longe, sei que continuamos perto. "Eu trago-te comigo e (já) sinto tanto, tanto a tua falta"...



26 de fevereiro de 2014

Roubada.

Queria dizer coisas bonitas e ser optimista e positiva e pensar que "vou ter mais uma casa onde ficar" e acreditar que tudo vai continuar igual, que a distância não muda nada, que o afastamento somos nós que o impomos ou o impedimos e todos esses clichés. Queria pensar que estou bem, que sou mais forte que isto, que não vai ser assim tão difícil, que não vou estar assim tão só. Queria acreditar, profundamente, dentro de mim, quando as pessoas me dizem que "outros aparecerão", que hei-de conhecer pessoas novas, que nada vai realmente mudar. Queria tudo isto, acreditem que sim.

Mas, por enquanto, só consigo sentir que a vida, injusta como só ela sabe ser, me está a roubar as minhas pessoas, aquelas com quem me habituei a viver, todos os dias, nos últimos dois anos e meio. Sem piedade, sem beleza, sem pena. E não, não vai ser tudo igual daqui para a frente. Porque a vida, irónica como só ela sabe ser, pôs no meu caminho pessoas que me completam e que, agora, vou ver e ouvir cada vez menos. E sim, eu sei que a separação depende de cada um de nós, mas também sei que a vida é lixada e rotineira e preenchida e, mesmo que queiramos muito, acabaremos por ter cada vez menos tempo para recordar que tudo pode continuar igual, se assim quisermos.

"Por mais que a vida nos agarre assim
Nos troque planos sem sequer pedir
Sem perguntar a que é que tem direito
Sem lhe importar o que nos faz sentir..."

[Mafalda Veiga - "Imortais"]

20 de fevereiro de 2014

Vertigem (de saudade).

Semanas e semanas depois, começo a sair da negação. Acabou. Acabaram estes dois anos, 5 meses e 15 dias de convivência quase diária, de histórias e aventuras, de uma gargalhada ali mesmo ao virar da esquina, de mil e uma conversas e discussões, sobre tudo e mais alguma coisa.

Começo a ter consciência de que tão cedo não iremos juntos ao ginásio ou à missa em São Francisco, que provavelmente nunca mais almoçaremos os 3 em "família", naquele 8º andar da Praça da Galiza, ao som das "tuas" músicas, que só através de ti cheguei a conhecer. Tu, que sempre disseste que isto é uma cápsula no tempo e que é assim que temos de entender que nada do que aqui se cria pode durar para sempre.

Desculpa, mas vou ter de te dizer que não tens razão. Há coisas que nem um oceano atlântico inteiro pode fazer esquecer. Acabam agora dois anos, 5 meses e 15 dias de convivência quase diária, continua uma vida inteira de amizade à nossa frente, a atravessar oceanos, a ultrapassar distâncias.


Hoje, o sítio onde te sentaste durante tantos dias deste tempo, mesmo ali ao meu lado, ficou vazio, completamente vazio, e eu comecei a sair da negação. Já não mais serei "musa inspiradora", se não tiver a quem inspirar... :) E, quando a ignorância me assaltar, já não poderei ter-te ali, mesmo "à mão", para me explicar tudo direitinho, até que eu perceba. Seguiremos juntos, unidos por tanto que vivemos nesta "cápsula", mas... porra! Maldita saudade, que já se entranha...




21 de janeiro de 2014

Dos bodes expiatórios...

Falemos, pois, de Praxe. Outra vez. Não porque tenha mudado de opinião (nem muito menos), desde que escrevi esse texto em Agosto de 2012 ou desde que contactei com a Praxe pela primeira vez, a 26 de Setembro de 2005. Mas porque, uma vez mais, me ferve o sangue com coisas que vou lendo por essa comunicação social fora.

Desta vez, porém, vou ser muito sucinta:

Os seis estudantes da Lusófona NÃO morreram no dia 15 de Dezembro por causa da Praxe.

Fui clara? Espero que sim. Infelizmente, aqueles seis jovens faleceram por uma (ou mais) de várias razões (que espero sinceramente que se cheguem a esclarecer!): 
  • Porque uma maldita onda os engoliu apanhando-os totalmente desprevenidos (como acontece em tantos verões!);
  • Porque foram totalmente inconscientes e acharam que era seguro estar na orla do mar, naquela noite, às escuras e em pleno inverno (seriam os primeiros a fazer uma inconsciência destas, não?);
  • Porque deram ouvidos a um tipo ainda mais inconsciente que eles, que achou divertido colocar os seus colegas (e amigos, acredito!) naquelas circunstâncias e, voluntariamente, lhe obedeceram;
  • Por mil e um motivos que até agora não podemos sequer imaginar.
Mas, de uma coisa eu tenho a certeza (porque a Polícia o confirma): os seis jovens não foram assassinados, ou seja, ninguém os agarrou pelo colarinho e os enfiou debaixo de água contra a sua vontade. E sim, já sei o que muitos dirão, que a "pressão de grupo", que a "exclusão dos que se negam a ser praxados", que a "idiotice que é a praxe que põe as pessoas nestas circunstâncias", etc etc. Esqueçam. A Praxe é, tal como taaaaantos outros "ambientes", voluntária. E, sim, nesse ambiente há bullying, em alguns sítios, tal como o há na escola, na equipa de futebol (ou outro desporto), nas forças armadas, em casa. Porque há pessoas na Praxe. E às vezes as pessoas conseguem ser muito, MUITO estúpidas. Mas não é por isso que se lhes deve oferecer um bode expiatório e atirar as culpas para cima da Praxe.

16 de janeiro de 2014

Blessed.

Se tivesse de escolher o que de melhor a vida me trouxe ao longo destes quase 27 anos, se tivesse de escolher mesmo só uma "coisa", não teria qualquer dúvida: as pessoas. Desde a família que não se escolhe mas que não trocaria por nenhuma outra até aos amigos que foram entrando e saindo mas, principalmente, acompanhando a minha viagem de viver. É sobre a amizade como pilar fundamental do meu dia-a-dia que reflicto neste arrancar de ano (já com 16 dias, eu sei, eu sei, mas é que eu demoro a "acordar" da época festiva... :) ).

Ter amigos que fazem parte do meu dia, que me ouvem e me respondem, que protestam, que me rebatem as ideias e me mandam dar uma volta, me dizem as verdades e as coisas nas quais eu não consigo acreditar, não tem preço. E, especialmente nos últimos dias, tenho pensado que se há coisa que um amigo te ensina é a não ser egoísta. Já fui genuinamente feliz porque um amigo acabou o curso, conseguiu um bom trabalho, se apaixonou de verdade, fez uma enorme viagem, casou ou teve um filho. E já se me apertou muito o coração porque um amigo perdeu alguém, teve um acidente ou sofreu uma daquelas chapadas imprevistas que só a vida sabe dar.

Mas o que nunca me deixa de surpreender é este desejo de que a felicidade chegue ao caminho dos meus amigos, incondicionalmente, inteira e plena, ainda que isso (n)os leve para uma distância física que faz o coração pequenino.

"Oh, if you're there
When the world comes to gather me in
Oh, if you're there
I will be blessed..."

["I will be blessed" - Ben Howard]